A má notícia, Sr. presidente Obama, é que afinal os Estados Unidos sempre são como a Grécia e Portugal, e também vão apostar na austeridade como a maneira mais rápida de prejudicar os pobres e dar cabo da economia.

Na verdade, os EUA são piores: nós fazêmo-lo porque somos obrigados; eles, porque sim.

Temos enfim de agradecer, ao presidente Obama e aos seus rivais republicanos no Congresso, por terem evitado no último minuto um incumprimento da maior economia do mundo que em condições normais nem deveria ser tema de conversa. Isto se o acordo entre eles passar no Congresso (à hora a que escrevo ainda não é possível saber). Mas ao desistirem do que seria uma inédita bancarrota por capricho, ao menos conseguiram não destruir a economia global a curto prazo, optando apenas pelo médio prazo.

Este acordo não é bom para os EUA, que arriscarão trocar uma recuperação fraquinha por um regresso à recessão, e não é bom para o resto do mundo cada vez mais rendido à ilógica da austeridade expansionária. Quando toda a gente cortar custos para ficar mais competitivo, que vamos fazer com a competitividade ganha? Exportar para Saturno?

Ah não, para a China (enquanto a economia chinesa não sobreaquecer). Acho que está tudo dito sobre o capitalismo atual quando a sua sobrevivência fica dependente do desempenho do Partido Comunista Chinês.

***

Na Europa também temos os nossos cábulas. Há duas semanas a História fez-lhes um teste: se a Grécia entrar em falência como farão para salvar a zona euro de uma desintegração? Só que essa era a pergunta que eles não tinham vontade de ouvir, e então fizeram o que tantos alunos fazem na mesma situação: deram a resposta mais complicada de que se puderam lembrar e, enquanto as pessoas cá fora coçavam a cabeça, declararam que o teste estava feito e que agora iam para férias. Em Setembro talvez haja uma segunda chamada.

Do que eu consegui perceber, a estratégia é a seguinte: se a Grécia falir de mansinho talvez ninguém dê por isso. Aliás, de certa forma ela já faliu, mas disfarçámos a coisa com novo crédito e uma tardia descida dos juros do resgate. Se o incumprimento não for declarado não terão de ser desencadeados os temíveis CDS sobre a dívida grega que ninguém sabe como estão distribuídos nem se alguém os poderá reembolsar.

Como é vulgar entre os cábulas, foi uma resposta que talvez fosse adequada para o teste do ano passado, não para o deste ano. É que entretanto o diferencial de juros entre a Itália e Alemanha não pára de fazer a esparregata e chegou a atingir máximos históricos, aproximando-se do ponto em que podem entrar em espiral. Pode ser que com a Itália a Historia seja diferente mas, em bom rigor, nem deveríamos querer descobrir.

Mas a única pergunta a que os líderes europeus queriam responder era aquela da canção do Jorge Palma: “será que ainda cá estamos no final do verão?”

Estaremos, sim senhor. Com os dentes enfiados na sanduíche da austeridade e sorrindo, sorrindo sempre. Com um esgar.

 

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