A única preocupação que devemos ter com Manuel Alegre, como com qualquer candidato, é que as suas posições sejam apenas idênticas — não às do partido X ou Y — mas às de Manuel Alegre ele-próprio. É por isso que temos eleições presidenciais uninominais.

Lástima é que, quando num dia futuro se fizer a história das presidenciais de 2011, vá passar despercebido o vigoroso momento de viragem que foi a passada sexta-feira. Efetivamente, foi nesse 10 de Setembro de 2010 que ocorreu a publicação de uma crónica de Vasco Pulido Valente em que este profetizava que “Alegre vai a caminho do desastre e não percebeu”.

Deveria até ser alcandorado a tradição eleitoral, no mesmo patamar das straw polls das aldeias do Maine nos EUA ou das previsões do polvo Paul na Alemanha, o impreterível facto de que em Portugal nunca nenhuma vitória eleitoral, — em verdade, nunca nenhum facto político —, se pôde dar sem que o Vasco Pulido Valente que todos conhecemos e amamos não lhe prognosticado a sua evidente impossibilidade. Manuel Alegre tem ainda muito caminho para percorrer; mas pode já respirar de alívio por saber que este primeiro escolho lhe foi removido.

Com infalível falibilidade, note-se, a previsão de Vasco Pulido Valente não vale só pela forma, mas também pelo conteúdo, a saber, que “o dr. Manuel Alegre condenou anteontem a decisão dos ministros das Finanças da União Europeia de impor um “visto prévio” ao Orçamento dos países-membros”. O problema não é ser isto incorreto — “formalmente, Manuel Alegre tem toda a razão” — mas que a “atitude de Alegre” o “torne assim, indiscutivelmente, o candidato do Bloco”.

Vale a pena perder algum tempo descendo a estes pormenores.

Para ser justo, é enfermidade crónica do comentarismo político (de que eu não juro que não padeça) pretender que os candidatos digam ou não digam isto ou aquilo por razões táticas — para se distanciarem ou não deste ou daquele partido, por exemplo. Às vezes estes conselhos ganham até a forma de suposta preocupação desinteressada pelo destino de um candidato, aquilo que em inglês ganhou o nome de “concern trolling”.

Mas isto é esquecer um singelo motivo pelo qual um candidato a Presidente deve dizer certas coisas: por ter “toda a razão”, formalmente ou não.

E no caso, Manuel Alegre tem toda a razão substancialmente também. O “visto prévio” de Bruxelas aos orçamentos nacionais é um problema de democracia essencial para o futuro de Portugal e da Europa. Um candidato que não tenha opinião sobre ele, e que não faça disso um tema de campanha, estará a menosprezar o eleitorado e a trair o cargo para que se candidata ainda antes de lá chegar.

A opinião de Manuel Alegre é diferente da posição oficial do governo e semelhante à posição do BE? Tanto pior, ou tanto melhor, como quiserem. Haverá na campanha muitas ocasiões para Alegre tomar posições próximas do PS e distantes das do BE. Para dizer a verdade, qual é o eleitor que se rala com isso? A única preocupação que devemos ter com Manuel Alegre, como com qualquer candidato, é que as suas posições sejam apenas idênticas — não às do partido X ou Y — mas às de Manuel Alegre ele-próprio. É por isso que temos eleições presidenciais uninominais. E a propósito: alguém se lembra de como Barack Obama “caminhava para o desastre” por ter sobre a Guerra do Iraque uma posição contrária à do seu partido? Pois é.

O que nós deveríamos estar a perguntar é: que pensa Cavaco Silva sobre o visto prévio de Bruxelas ao orçamento do seu país, que vai estar em cima da mesa precisamente ao tempo das eleições?

4 thoughts to “Bingo!

  • Maria Glória Silva Marques

    Rui Tavares, Bom Dia!

    Lia o artigo sobre o sacarrabos, quando mais uma vez (sou leitora diária com, prazer, do Público – alguns queridos jornalistas e cronistas o Vasco, Paulo Moura, você…) pensei pôr-lhe uma questão (1), como deputado que é do BE.

    Os sobreiros e as azinheiras estão a morrer rapidamente, o que não tem a ver com o seu ancestral ciclo biológico. – Será que os Chemtrails têm algo a ver com este declínio? (1)
    Há países que não autorizam os Chemtails. No sítio onde habito vejo serem lançadas quase diariamente enormes quantidades de produtos que desenham no céu os chemtrails?

    O orçamento, o deficite, a candidatura presidencial(Bingo!) os casos mediáticos da justiça invisual não passarão certamente de desenhos de animação… mas tanta tinta fazem correr na Imprensa.

    Melhores cumprimentos

    Glória Marques – Elvas

  • Augusto Küttner de Magalhães

    De facto teríamos que assumir que – não o Rui Tavares que é uma Pessoa de bom senso – o BE se fosse governo, faria pior do que todos os que por lá têm andado.

    Empregar tudo e todos, unicamente para não haver desempregados, sem se saber como iriam ser pagos, não assumir as dividas aos estrangeiro.sair da Nato. etc etc.

    De acordo em não ter subamarino(s) nem outro qualquer material de guerra, mas subamarinos é escabroso.

    Mas de facto não chega hoje estar só do contra, mesmo estando na oposição!Ou vamos todos, mesmo bater no fundo…e depois a culpa é sempre do outro!!! muito facil, mas muito perigoso!!

  • C. Medina Ribeiro

    No SORUMBÁTICO (http://sorumbatico.blogspot.com), onde esta crónica está reproduzida, foram feitos os seguintes comentários:

    1) Carlos Medina Ribeiro said…

    Rui Tavares faz humor com as afirmações de V. P. Valente (segundo o qual Manuel Alegre vai a caminho do desastre eleitoral e ainda não percebeu), mas eu acho que, pelo caminho que “a coisa” leva, é mesmo isso que vai suceder.
    E digo-o com o à-vontade de quem votou nele em 2006…

    2) – GMaciel said…

    CMR, penso mesmo que o único que ainda não percebeu isso foi Manuel Alegre.

    E digo-o com o à-vontade de quem nunca votou nem pensa votar nele, tampouco no Cavaco.

    🙂

    3) – Carlos Medina Ribeiro said…

    Quando as pessoas se “enfronham” muito na política (nomeadamente na actividade partidária), é fácil perder o contacto com a realidade – nomeadamente com o que pensa o cidadão-comum.
    Isso traduz-se, invariavelmente, por confundir os desejos com a realidade, sendo bem possível que R.T. esteja mesmo convencido da futura vitória de M.A.

    Mas as ilusões também ajudam a viver…

    4) – José Batista said…

    Um noite destas tive um sonho desagradável: estava-se na noite de eleições presidenciais e, à saída de uma mesa de voto, José Sócrates sorria para as câmaras de televisão e colocava a tampa na caneta com que havia feito a cruzinha. Depois a imagem passava para Manuel Alegre, que, regressado também ele da sua secção de voto, fazia um sinal de cortesia optimista para os jornalistas. Ao fim da noite, contados e recontados os votos, Manuel Alegre só tinha um voto. Nas pantalhas da TV, os analistas faziam elucubrações sobre o real sentido de voto de cada uma daquelas personalidades…
    Com grande desconforto acordei, belisquei-me, e disse para comigo: é apenas (mais um) pesadelo…

  • Pedro Maria

    Cavaco vai ganhar isto de carrinho! Alegre vai ficar ainda mais prejudicado por ter na campanha este Partido Socialista que está a dar cabo do país com mais um PAC (Plano de Austeridade e Cortes).

Leave a comment

Skip to content