Onde estavam os defensores da estratégia espanhola quando a crise grega vinha aí e a Península Ibérica poderia ter tido uma posição ativa comum?

Espanha, Espanha, Espanha.

Por que se costuma dizer que a Espanha deveria ser a principal aliada de Portugal na União Europeia? Por preguiça. Por que esta é uma estratégia fácil de enunciar e mais fácil ainda de pôr em prática. De resto, por nenhuma razão em particular.

José Sócrates disse-o no início do seu mandato: a prioridade da política externa portuguesa seria “Espanha, Espanha, Espanha”. Certos diplomatas continuam a repetir a ideia. E as comemorações dos 25 anos de ambos os países na CEE/UE ajudaram a reforçá-la. Parece simpático dizê-lo, afinal trata-se do país vizinho. Mas espero que não seja verdade, porque seria ingénuo.

Vamos lá a ver: na União Europeia, salvo em certas temáticas regionais e naquelas coincidências que advêm de os dois países serem governados por partidos da mesma “família”, os interesses de Espanha não coincidem com os de Portugal. Espanha não tem nenhuma objeção ao “diretório” de grandes países, a não ser que não faça parte dele. Só que para Portugal, como para a maioria dos 27, esta é a questão fundamental para o futuro da União. A nossa estratégia deve partir daí.

Eu chamar-lhe-ia a “estratégia dos países-charneira”, e passa por concertar as posições de vários países de média-dimensão e posição intermédia no mapa da União. Este grupo de países não é estático, — poderia incluir a Irlanda, a Holanda, a Suécia, a Hungria, a Grécia, e outros, dependendo da evolução política de cada um dos seus elementos, — o que implica ter de adaptar e afinar em permanência as posições deste grupo. Por outro lado, é um grupo que oferece mais possibilidades de escolha, e que constitui a maioria dos países da União. A estratégia de que precisamos, admitamo-lo, é muito trabalhosa.

Alinhar as nossas posições com as de um país apenas não dá muito trabalho. Mas nem isso temos feito: onde estavam os defensores da estratégia espanhola quando a crise grega vinha aí e a Península Ibérica poderia ter tido uma posição ativa comum?

Se na União Europeia nós e a Espanha somos aliados na verdade intermitentes, no continente americano somos principalmente concorrentes. A Espanha quer que o resto do mundo saiba que existe uma coisa chamada América Latina, de que o Brasil faz parte. A Portugal interessa que o mundo saiba que o Brasil é uma coisa à parte. Quando até a Espanha se dá conta disto, — como no ataque da Telefónica à PT por causa da brasileira Vivo — pode passar de parceira a predadora.

É natural. Como todos os países, a Espanha é diferentes coisas em diferentes momentos. Para alguns concidadãos nossos é uma forma fácil de atacar os nossos políticos dizendo-lhes que “vocês são tão maus que eu preferia ser espanhol”. Uma cidade minhota descobriu recentemente que pendurar uma bandeira espanhola à janela é uma maneira segura de acordar o país e chamar a atenção da imprensa. A Espanha tornou-se mais frequentável e conhecida, o que não é de estranhar e aconteceu também ao resto da Europa. Os espanhóis podem ser sócios ou patrões. A maioria dos portugueses preferiria ter um patrão espanhol competente do que um português incompetente (muitos parecem ter desistido de ter um patrão português e competente).

No entanto, não sei se partilhamos muito com a Espanha. Antes partilhávamos as origens e uma relação conflituosa. As origens vão se distanciando. E agora já nem partilhamos o conflito.

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