Hoje no Parlamento europeu relatei ao grupo da Esquerda os resultados da visita que com o meu colega dinamarquês Søren Søndergaard fiz à Turquia. A parte mais pessoal e “reflexiva” da visita meti nas crónicas ao Público que estão no blogue aqui e aqui. A parte política está relacionada com a extinção do partido pró-curdo DTP, a suspensão de direitos políticos do líder curdo Ahmet Türk e questões relacionadas com o famoso artigo 301 do Código Penal turco (que criminaliza #insultos à nação turca”). No futuro terei mais a dizer sobre isto, uma vez que continuarei a seguir o caso.
Saí da reunião a pensar no assunto.
O que se passa entre a UE e a Turquia é muito paradoxal. Por um lado, continuam as negociações para a entrada como se nada fosse. Por outro lado, Sarkozy e Merkel dizem que a Turquia nunca entrará. A sociedade turca já não acredita e está completamente desanimada, nomeadamente os jovens e os estudantes, as minorias étnicas, os intelectuais e escritores, e toda a comunidade mais civilista e secular — ou seja, todos os que eram euro-entusiastas no passado. Os burocratas e funcionários vão implementando o que têm a implementar e fazem paulatinamente o seu caminho. Sarkozy e Merkel dizem, direta ou indiretamente, que a Turquia não entrará por ser muçulmana, por ter a localização geográfica que tem, ou por ter mais população do que a Alemanha. Na prática, o mercado turco já está na UE, Istambul é a capital europeia da cultura, os estudantes turcos fazem erasmus. Para todos os efeitos, a Turquia é como se fosse o 28º membro da UE. Mas nunca será mais do que isto, parece. E isto é, para já, o pior de dois mundos. A UE não é exigente em termos de direitos humanos, liberdade de expressão, minorias e o caso de Chipre. E os militares e o governo turco sentem que têm carta branca para fazer resvalar o país para o autoritarismo, o caos institucional, ou as duas coisas. Porque mesmo que fizessem todas as reformas e aberturas continuariam a ser muçulmanos, a ter uma parte do país na Ásia menor, e mais população do que a Alemanha.
5 thoughts to “Mais um pouco de Turquia”
A frase “Mas nunca será mais do que isto, parece” é deslocada. É necessário continuar os esforços para integrar a Turquia, logo e desde que satisfaça os critérios de adesão. E os parlamentares europeus têm a obrigação de velar para que isso aconteça.
Não me parece que a Túrquia mereça entrar na UE. Não por ser muçulmano ou ter poder, mas por desrespeitar de uma forma desumana os direitos humanos. Mas vejamos, não há tantos outros países na Europa, que não respeitam plenamente os Direitos humanos? talvez não sejam casos tão extremos como o da Túrquia, mas existem.
Não conheço bem a verdade dos factos, mas não é na Irlanda do Norte, “país” mais Irlandês que Britânico, que a religião oficial é o Protestantismo enquanto as populações são Católicas? Não devia o estado Irlanddês ser um pouco mais laico? Enfim, não sei se existem realmente erros políticos nesse caso, ou se é tudo responsabilidade dos radicais católicos (expressão curiosa). Ainda assim, pergunto-me se tem sido feito tudo o possível para parar com a situação.
cumps
jP,portanto,desfaz o seu próprio argumento. Óbvio q a Turquia tem um caminho a percorrer(n temos todos nós?),mas se n tiver ‘um desígnio’,n o fará de certeza.E não vermos isso,é mais uma cegueira europeia para o bem q é ‘elevar’ o mundo e exigir q cada vez mais dele se torne democrático e melhor. É abandonar ‘à sua sorte’ todos os moderados,’cultos’ e amantes da liberdade. Excluí-la,é permitir q as forças retrógradas tomem a dianteira,tornando o mundo mais perigoso e pobre. É lá longe,who cares?…
http://intransmissivel.wordpress.com/2008/08/06/na-encruzilhada-ue-turquia-e-nato/
As informações de VFS foram mt úteis e pertinentes. Obrigada