Leio na imprensa internacional que Francisco Van Zeller, porta-voz dos mais privilegiados e conservadores entre os patrões portugueses, faz campanha contra a possibilidade de sermos governados à esquerda — porque isso seria “nocivo ao crescimento da economia”.
Noutro momento, a minha resposta seria irónica: qual crescimento? Mas lamento; ainda estamos demasiado perto das eleições. A ideia de que o voto de mais de três milhões de portugueses — que escolheram partidos de esquerda nestas eleições — deva ser ignorado para nos conformarmos todos com os preconceitos ideológicos do Sr. Van Zeller é ainda demasiado prematura. O Sr. Van Zeller pode não ficar contente com o resultado — como eu não fico, quando a direita ganha —, mas é de democracia que estamos a falar: o voto de cada português foi contado, todos valem exactamente o mesmo, e é bom que toda a gente respeite o veredicto.
Como lembram os signatários de um manifesto que foi anunciado ontem na internet (www.compromissoaesquerda.com) — entre eles o politólogo André Freire —, a esquerda teve uma vitória muitíssimo clara, “com mais de 53% dos votos e pelo menos 55% dos deputados”. Pelo menos a tentativa de governar à esquerda “é devida ao povo português pela forma como demonstrou a sua vontade eleitoral”. Revelador dos bloqueios e atrasos do nosso país é que isto não seja evidente à partida e que alguém tenha de o escrever. Sendo as coisas como são, ainda bem que o fizeram.
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Na última crónica, referindo-me a esta vitória da esquerda, escrevi que “a bola está do lado de Sócrates”. Receio um pouco que esta frase, tão banal em política, possa ser entendida como uma fórmula fácil. Sei que “a bola está do outro lado” tem sido a maneira mais expedita de nunca se fazer nada à esquerda.
Mas a verdade é esta: a bola está mesmo do lado de Sócrates. Foi ele quem venceu as eleições, é a ele que vai competir a formação de governo e a apresentação de um programa. O que Sócrates tem é de nos dizer que tipo de governo quer fazer.
(Não serve isto para dizer que o BE e o PCP tenham de ficar, quietos, à espera de Sócrates. Até porque o BE e o PCP tiveram, juntos, um milhão de votos e — em vez de ficarem a controlar-se para ver quem dá o primeiro passo em falso —, e têm as suas próprias responsabilidades perante toda esta gente. Podem até concordar em discordar. Mas juntos têm 31 deputados; quando disserem “sim” ou “não” em conjunto, é muita força.)
Mas, a nível nacional, a prioridade é esta: é preciso que Sócrates se explique. Guardar o jogo e remeter-se para os trâmites institucionais não chega. Que tipo de governo quer Sócrates fazer? Se o acorde dominante for feito com um PSD ou um CDS que, nesta campanha, demonstraram ser especialmente chauvinistas, retrógrados e anti-socialistas, perderá qualquer credibilidade entre a maioria do eleitorado de esquerda (que é a maioria do eleitorado) e basta que haja quatro deputados socialistas dignos desse nome para que essa aventura lhe saia cara.
O que quer Sócrates? É de um pacote de grandes medidas e opções de esquerda que é preciso falar; estamos em plena crise, o tempo não pára, — e nem falemos ainda da guerra institucional que aí vem.
[do Público]
4 thoughts to “O que quer Sócrates?”
É bom saber que o PS já faz parte da esquerda para o BE e a CDU. É quando lhes dá jeito…
Joao R, o fenómeno que descreve poderia ser nomeado “aritmética variável“.
O próprio Rui Tavares admite que há muitos deputados socialistas que não são «dignos desse nome». Se calhar, também não são «dignos» de serem considerados de esquerda.
Rui Tavares e André Freire acreditam que uma certa simbologia ideológica (esquerda/direita) é suficiente para se criarem afinidades e compromissos para a governação do País. Não importa quão diferente são os programas dos partidos a que se referem (PS de um lado, BE e PCP do outro), com reduzidos pontos de contacto.
Ora, somos todos de “esquerda”, ‘bora lá privatizar as empresas do sector da energia. O programa do PS diz isto? Não.
Somos todos de esquerda, ‘bora lá sair da NATO. O PS defende isto? Não.
E por aí fora.
Um pouco mais de pragmatismo não faria mal a “esta esquerda”.
A ESQUERDA E OS ESQUERDALHOS
A propósito da crónica escrita por Rui Tavares no jornal Público do dia 30 de Setembro do corrente ano , com o título ” o que quer Sócrates”,apeteceu-me escrever.Aqui vai. Rui Tavares,que se apresenta como deputado eleito para o Parlamento Europeu pelo Bloco de Esquerda e pelo que sei também Historiador,começa a sua crónica pelo ataque ideológico a Francisco Van Zeller,começando por lhe chamar porta -voz dos mais privilegiados e conservadores entre os patrões portugueses , a propósito de este ter dito algures que seria nocivo à economia Portuguesa sermos governados à esquerda.Alguém paga a Rui Tavares para escrever estas crónicas ,não é? Quem? O eng.Belmiro de Azevedo.Este mesmo,um dos símbolos maiores do , e passo -lhe a chamar a palavra mais querida aos esquerdalhos ,PATRONATO.Uma das coisas que me deixa mais irritado é ver gente a cuspir no prato onde come .São pessoas sem valores e se os têm estão tão distorcidos que valia mais a pena não os ter. O povo quando se quer referir a este tipo de gente usa esta frase:É cão que não conhece o dono.Mas como se trata de uma pessoa cujo grau de cultura é bem superior e faz disso a sua vida ,eu prefiro chamar-lhe de “hiena”,essa mesma ,aquele animal suficientemente covarde para enfrentar o opositor cara à cara e partir para uma luta leal e nobre,mas também suficientemente esperta para perceber que ,sozinha , não consegue os seus intentos ,recorrendo assim à arma da maioria para conquistar uma vitória fácil. E para que a faena fique completa ,apimenta -a acrescentando-lhe o seu tão característico olhar de soslaio e o sorriso e o riso mais cínico e frio ,só dignos das criaturas despojadas de qualquer alma e sentimento .Um espectáculo de sobrevivência degradante a que só mesmo, e com a paciência dos abutres, se consegue assistir e resistir.Mas são assim os nossos esquerdalhos.A elite desta classe vive sempre na esperança de um dia chegar ao poder ao trono ,mas como sabe bem lá no fundo do seu interior, que não o consegue conquistar só pela pregação doutrinal ,não têm qualquer pejo de usar os mais incautos ,os menos informados e os menos capazes,como arma de arremesso ,como quem atira ,carne para canhão.Fazem-no sem qualquer tipo de pudor e muito menos responsabilidade.Não olham a meios para obterem os fins,mesmo que isso custe o superior interesse do homem e da nação.Resguardando-se na sua superior intelectualidade ,fomentam entre o comum dos mortais a inveja a discórdia e a maledicência para, e a coberto das tão propaladas liberdades e democracias, praticarem exactamente o oposto tornando-os nos ditadores mais impiedosos de que há memória. A História esta aí para o comprovar e relembrar.É através de uma política de terra queimada que persseguem os seus objectivos, e é sobre os escombros da mesma que querem erguer a tal sociedade sem classes e desigualdades , onde todos trabalham para todos e onde todos, submetidos a uma ordem superior, não passível de qualquer tipo de discordância,são encaminhados para o bem comum. Mas eu não quero o bem comum.Quero, sim, o bem para todos assente na diferença.Na diferença de pensar e entender, querer e optar, decidir e fazer e mais importante que tudo escolher o caminho que quero percorrer.Quero viver a minha vida sem condicionalismos e com total liberdade mas com a máxima responsabilidade.Igualdade ,só nas oportunidades,porque é nas diferenças que reside a maior riqueza do homem:eu sou diferente de todos e todos são diferentes de mim,no entender , realizar, produzir e até amar.A verdadeira liberdade está na capacidade que cada um de nós tem em auto avaliar-se por um lado ,e por outro e como consequência, saber ocupar o lugar que lhe é devido.A tudo isto eu chamo viver com liberdade respeito e responsabilidade.Só assim adquiro o verdadeiro direito.O direito superior de ser eu. Eu quero ser tudo porque tudo me é possível incluindo o de ser empresário.Basta que para isso eu queira e tenha capacidade para o fazer.Eu sou um pequeno empresário,daqueles a quem tudo se exige e nada se dá em troca a não ser um mar de burocracia ,regras impossiveis, impostos elevadíssimos,leis labororais completamente desajustadas da realidade dos tempos ,banca com critérios retrógrados e sem espírto de ajuda,e por fim um estado tutelador, interventivo e desonesto.Mesmo assim com todas as contrariedades tentamos construir ,empreender,e com isso criar postos de trabalho criar riqueza e mais valia.Ao contrario Rui Tavares para além de não criar rigorosamente nada nem contribuir com uma só pinga de suor de risco e esforço ,ainda tem o desplante de criticar quem faz, muito e bem.Sem empresários como Belmiro de Azevedo e outros como ele o Rui Tavares não teria um jornal onde publicar as suas alucinações políticas e muito menos viver à conta dele.Os esquerdalhos cospem sempre no prato onde comem.A desonestidade política e intlectual não merece mais que o desprezo .Mas como Rui Tavares diz ,não há pior inimigo de um sistema do que os seus principais agentes,então já percebi porque chamam de gamela ao prato onde comem e pelos vistos gostam de comer.