Nassim Nicholas Taleb, “How bank bonuses let us all down”, Financial Times, 25 fevereiro 2008. Clique para aumentar.
Em Portugal a quase totalidade dos comentadores continua a fazer de conta que os incentivos dos banqueiros e gestores não desempenharam nenhum papel nas origens da crise. É, em si, uma posição contraditória com os princípios do capitalismo que dizem defender ou até com o que sabemos do comportamento humano. Os incentivos têm importância na forma como eu, um enfermeiro ou uma bombeira desempenham o seu trabalho. Aparentemente, só no caso dos executivos isto deixa de valer.
Adicionalmente, a posição é contraditória até com o que os mesmos comentadores dizem sobre as vantagens dos incentivos: que eles servem para recompensar o talento. Pelos vistos, os incentivos têm importância quando as coisas funcionam “bem”. Mas quando elas funcionam mal já subitamente perdem toda a importância.
Por detrás disto está a razão política de que, se admitirmos que os incentivos estiveram (também) na origem da crise, e se os contribuintes estão a pagar a crise e a segurar os bancos que restam, passa a ser evidente que os incentivos têm de ser não apenas “regulados” mas fundamentalmente alterados na sua estrutura.
Nassim Nicholas Taleb é apenas mais um dos autores que vem dizer que o rei vai nu. Os incentivos estiveram, sim, na origem da crise. Também gostaria de o ver escrever sobre algo que é apenas sugerido neste texto. Que “talento” é esse que era necessário recompensar — sem falar no talento de quase fazer colapsar o sistema financeiro? Em que é especial esse talento para que um executivo ganhe mais que um cirurgião, um farmacêutico ou um físico?
6 thoughts to “Sim, os incentivos estiveram na origem da crise”
Se se conseguisse regular eficientemente os incentivos, ou mesmo alterá-los na sua estrutura , então era por aí que deveríamos caminhar. O problema é que essa solução é o mesmo tapar o sol com uma peneira. Há mil e uma maneira de os gestores se fazerem pagar como bem entenderem, e não há regra alguma que consiga alterar esse estado de coisas.
Estaremos já preparados para discutir, não só o ordenado mínimo, mas também ousar discutir o ordenado máximo? E para não chocar com credos centenários, que se comece com… 1 milhão de euros! Tudo acima disso, reverteria para todos. Como? Simplesmente decidindo.
O problema está mesmo aí, há gente a ganhar mais do que 1 milhão, por mês. Isso é muito, demais.
Numa outra sociedade, tudo acima de metade disso, era decidido pelo contribuinte onde ser investido em nome de toda a sociedade, imagine-se o reconhecimento (ou reprovação) do grupo para com essas decisões de investimento.
A discussão sobre os incentivos é importantante mas não julgo que tenha sido fundamental na origem da crise. Mas, além disso, é profundamente errado reduzir a questão dos incentivos aos bónus. A verdade é que os mercados castigavam duramente as empresas que não conseguissem manter “a par” da concorrência e os gestores que não conseguissem apresentar os “resultados” similares aos dos seus congéneres viam as “suas” empresas serem adquiridas ou eram substituídos pelos accionistas, pelo que uma limitação dos salários/bónus não teria resolvido o problema que resultou de: i) políticas monetárias que incentivavam esses comportamentos; ii) o falhanço da regulação seja dos mercados que subestimaram gravemente os riscos envolvidos (nomeadamente accionistas e credores) seja das autoridades de supervisão que foram, no minimo, complacentes face a esses riscos.
a base de dados que sócrates está a construir a partir do site http://www.socrates2009.com/ não salvaguarda a autenticidade de alguns dos dados inseridos
análise ao site http://www.socrates2009.com/
http://trocaopasso.wordpress.com/2009/03/01/socrates-2009/
RM
Mas será qe ninguem pensou nisso antes?
Sinceramente, o ponto essencial que os capitalistas deveriam defender é que os incentivos devem ser determinados pelos accionistas pois são estes que vão suportar os custos ou arrecadar os lucros. É ao dono do capital que cabe saber a remineração e a forma de gestão.
Mais: qualquer verdadeiro capitalista recusa que sejam os contribuintes a pagar os custos do prejuizo. Ainda mais, qualuqer capitalista reconheçe que – no actual sistema – se o estado nacionalizar ou participar no capital de qualquer instituição tem tanto direito como qualquer outro accionista a determinar os incentivos e até a limitar as remunerações. Atenção, limitá.las nas empresas em que participa. Qualquer capitalista recusará a limitação por lei e que afecte também aquilo que o estado não possui.
Nota: os capitalistas estão em extinção há quase 100 anos.