Como numa balança, há momentos em que a política bascula. São o resultado de processos longos mas não só. A sociedade americana vem mudando demográfica e culturalmente. O racismo já não tem tanta importância e este foi um processo longo. Mas há também uma nova geração menos religiosa, mais educada e mais tecnológica. A sua entrada na política foi rápida e decisiva.
Não foi só a demografia americana que mudou. Foi antes o eleitorado que foi mudado – por um discurso novo.
Nos próximos dias esperam-se as opiniões de quem apoiou Bush para lá do razoável, achou que McCain era um candidato inovador, que Palin foi uma escolha brilhante (e que a Guerra do Iraque ia durar pouco, e que a bolha financeira não ia alastrar para a economia real, e, e — a lista poderia continuar). Como se vê, não têm acertado muito. Mas tentarão mais uma vez convencer-nos de que a opinião convencional é a opinião “responsável”, que Obama ganhou ao centro, que pouca coisa vai mudar, e de que o que sucedeu não obriga a repensar o panorama político.
De passagem, farão a concessão de que foi um dia histórico, principalmente por causa da cor de pele de Obama. Infelizmente, trata-se de gente que não reconheceria um dia histórico nem que este lhe caísse em cima da cabeça. O mundo da opinião convencional é como uma bolha, onde se dá a mesma credibilidade a um discurso absurdo e a um discurso articulado, à mentira como à verdade. Pode ser “centrista” mas não é realista, porque a realidade não é 50/50. E este dia foi histórico por muito mais razões do que pela cor de pele de Obama. Dou dois exemplos.
Os republicanos têm uma base homogénea mas que se tornou minoritária. Vão passar por uma travessia no deserto até conseguirem crescer para lá da sua bolha branca e conservadora. A coligação de minorias dos democratas (minorias étnicas e raciais, gays e operários, gente sem seguro de saúde e empresários de Sillicon Valley) tornou-se a maioria.
Como? Através de uma coisa que vemos raramente em política. Barack Obama convenceu essas várias minorias, através de um novo discurso político que teve em conta os imperativos morais do progressismo americano clássico, que estavam todas juntas no mesmo barco. A raiz do seu talento político está aí.
Segundo ponto: é preciso distinguir “ganhar o centro” de “ganhar ao centro”. Sem ganhar o centro não se ganham eleições. Mas a estratégia para conquistar o centro não tem de ser jogar ao centro. É antes, convencê-lo de que as ideias do “nosso” lado fazem mais sentido do que as do outro. Reagan conseguiu fazê-lo e, no seu tempo, o centro aliou-se à direita. Ontem o centro aliou-se à esquerda e deixou a direita isolada. Os efeitos dessa mudança vão sentir-se durante muito tempo.
One thought to “Ganhar o centro, não ao centro”
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