Nos próximos dias esperam-se as opiniões de quem já tinha visto isto tudo há muito tempo, apesar de terem apoiado Bush para lá do razoável, de terem prognosticado que Mitt Romney ia vencer, que Hillary Clinton tinha o partido na mão, que John McCain era um candidato fabuloso, que Sarah Palin foi uma escolha brilhante (e que a Guerra do Iraque ia durar pouco, e que a bolha financeira não ia alastrar para a economia real, e, e — a lista poderia continuar). Como têm acertado muitas vezes nos últimos anos, tentarão convencer-nos de que a opinião convencional é a opinião “responsável”, que Obama ganhou ao centro, que pouca coisa vai mudar, e de que o que sucedeu não obriga a nenhum repensar do panorama político.
De passagem, farão a concessão de que foi um dia histórico, principalmente por causa da cor de pele de Obama. Infelizmente, trata-se de gente que não reconheceriam um dia histórico nem que este lhes caísse em cima da cabeça. O mundo da opinião convencional é como uma bolha, feita de triangulações e bissectrizes e medianas, como se fosse preciso dar a mesma credibilidade a um discurso absurdo como a um discurso articulado, ao irrealismo como ao realismo, à mentira como à verdade. Foi (por exemplo) neste mundo, nesta bolha do pensamento convencional, que Sarah Palin foi levada a sério.
Mas a realidade não é 50/50. E este dia foi histórico por muito mais razões do que pela cor de pele de Obama. Dou dois exemplos.
Esta eleição marca o momento em que o eleitorado americano basculou. Os republicanos têm uma base homogénea, que se tornou minoritária, e vão passar por uma enorme travessia no deserto para arranjar maneira de crescer a partir daí, uma vez que alienaram tudo o que tinham à volta da sua própria bolha branca e conservadora. A coligação de minorias dos democratas (minorias étnicas e raciais, pobres e universitários, gays e operários, gente sem seguro de saúde e empresários de Sillicon Valley) tornou-se uma maioria.
Como se tornou uma maioria? Através de uma coisa que vemos raramente em política. Barack Obama conseguiu convencer essas várias minorias, através de um novo discurso político que tivesse em conta os imperativos morais do progressismo americano clássico, que estavam todos juntos no mesmo barco. A raiz do seu talento político está aí.
Segundo ponto: é preciso distinguir “ganhar o centro” de “ganhar ao centro”. Sem ganhar o centro não se ganham eleições. Mas a estratégia não tem de ser forçosamente jogando ao centro.
(sem mais bateria no computador, voltarei a este ponto mais tarde).
3 thoughts to “A bolha convencional”
Não te esquecças de assinalar que o Obama não é ingénuo. Isso é bem importnate.
Um dos problemas de certa direita em Portugal é que durante os oito anos Bush estigmatizaram a esquerda com o antiamericanismo. Defendiam-se das críticas (Iraque, Quioto, etc.) com isto, e agora deparam-se com um novo Presidente americano amado por essa mesma esquerda. É claro que isto lhes dói.
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