O Parlamento Europeu esteve muito mal esta semana. Rejeitou ontem a proposta da Comissão Europeia para combater o excesso de licenças de emissão de carbono na UE. A proposta (conhecida por “backloading”) pretendia adiar o leilão de licenças respectivas à emissão de 900 milhões de toneladas de carbono.

A proposta foi rejeitada por 334 eurodeputados, com 315 votos a favor e 63 abstenções. Uma vintena de votos que fez a diferença, a desfavor da nossa vida no planeta. Nas horas a seguir ao voto o preço da tonelada de carbono baixou de €4,30 para €1,70.

Este é caso para ficarmos em estado de choque. A proposta previa adiar o leilão das licenças, com isso contribuindo para a redução das emissões domésticas.

Votei a favor, seguindo neste caso a indicação do grupo dos Verdes europeus. A rejeição é de total irresponsabilidade e perigosa, uma cedência aos lóbis de indústrias que já poluem barato e que vão poluir mais barato ainda. Companhias que pagam uma ninharia em licenças de carbono não se incomodaram em usar os seus lobistas provavelmente mais caros em Bruxelas — já que estão avençados para um assunto hoje e outro amanhã — para inventar uma narrativa em que puseram a economia contra o ambiente, como se o preço do carbono fosse neste momento o grande obstáculo ao crescimento e como se nos pudéssemos dar ao luxo de ter um crescimento que não respeitasse o ambiente. O fim da liderança europeia em termos ambientais, como já foi interpretado este voto pela imprensa internacional, terá um preço bem caro — em economia e ambiente — quando as outras potências regionais decidirem baixar ainda mais os seus critérios de proteção do ambiente, como resposta a este relaxamento das nossas regras.

A Comissão Europeia tem agora de arranjar uma solução alternativa rápida, e isso tem de passar por reduzir o número licenças – pelo menos em 1,4 mil milhões – e introduzir um factor de redução de emissões lineares de 2,5% por ano.

A redução do preço da tonelada a seguir ao voto é uma demonstração clara de como o mercado do carbono está em crise e baixo de mais para ter qualquer significado na protecção do ambiente.

Deixo aqui um artigo publicado no blog “Jugular”, que retrata muito bem o problema apresentado. E inclui uma tabela com a relação dos votos dos deputados portugueses.

One thought to “Poluir ficou mais barato. Por nossa culpa.”

  • ze

    Ainda ninguém avisou os verdes que o mercado de carbono já morreu há muito tempo? Pôr o mercado a regular um efeito marginal negativo do próprio mercado não é um ideia por aí além. Disso os verdes sabiam.

    E que verdes são estes que depois de passarem pelo governo ingressam as fileiras de produtoras de gás, petróleo e automóveis como “consultores”. Os verde-alfaces do PE não são mais do que greenwashing. E isso é pena…

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