O dificultês é a conversa que estes governantes usam para ocultar que desistiram. Ou às vezes pior.
Há uns anos iniciou-se uma voga no ataque ao ensino público que andava sempre em torno da ideia de facilitismo; o grande sucesso dessa voga foi a criação de uma palavra nova, o eduquês, que seria uma linguagem burocrática complicada que ocultava o facilitismo.
Retoricamente é um dispositivo brilhante. O problema é que é facilitista. E tal como no seu espelho, este discurso está encoberto por um tipo específico de linguagem.
Chamemos-lhe o “dificultês”. O dificultês é sucesso garantido. Nós bem gostaríamos de criar mais emprego jovem mas, dadas as dificuldades do país, o melhor é emigrar. Nós bem gostaríamos de fazer investimento na escola pública mas, dadas as dificuldades, teremos antes de garantir os subsídios às escolas privadas.
O dificultês é a conversa que estes governantes usam para ocultar que desistiram. Ou às vezes pior.
Consideremos o que se passou esta semana com Nuno Crato e a Parque Escolar. As obras nas escolas secundárias, algumas das quais levavam mais de um século sem conhecer outras obras que não a mudança das telhas ou uma nova pintura, foram apresentadas por Passos Coelho como um “luxo”. Chegados ao governo, PSD e CDS suspenderam as obras que estavam planeadas e solicitaram uma auditoria à Inspecção Geral das Finanças.
Ora, faz hoje precisamente uma semana que o ministro Nuno Crato, que se tornou conhecido como um dos rostos desse discurso facilitista do rigor, foi ao Parlamento anunciar as conclusões dessa auditoria. Que disse, então, o ministro? Que “o custo unitário das escolas, que eram 333, era de 2,08 milhões de euros, até actualmente, que o custo unitário é de 15,04 milhões de euros”. Como, durante 48 horas ninguém pôs os olhos no estudo, fechado a quatro chaves na 5 de Outubro, os números do ministro tornaram-se a fonte oficial de todas as televisões, rádio e jornais. “Derrapagem de 400% na Parque Escolar”, anunciaram todas em uníssono.
Quando finalmente tivemos acesso ao relatório os 400% e o despesismo desenfreando eram letra de lei. Mas, o que é que nos diz a auditoria? Que Nuno Crato, que antes de ser ministro é matemático, tem uma relação muito peculiar e distendida com os números. Uma por uma, todas as suas afirmações são desmentidas pela fonte que, aparentemente, citou mas nunca se deu ao trabalho de ler.
Os custos subiram 70%, sim, mas a própria auditoria diz que esse aumento “foi essencialmente devido ao aumento de área de construção por escola”. E aumentaram por uma razão muito simples. Porque, entretanto, no segundo país da Europa com menor percentagem de jovens entre os 18 e 34 anos com o ensino secundário concluído decidiu-se, e bem, aumentar a escolaridade até ao 12º ano. Assim, escolas projectadas para 800 alunos viram o seu espaço crescer para acomodar 1230, (um aumento de 52%). A aprovação de novas leis so energéticas obrigou a um sobrecusto de 800 milhões de euros (mais 15%). Feitas as contas, o investimento médio por aluno aumentou 9,4% e o investimento médio por m2 aumentou 3,1%. Diz a auditoria: “a derrapagem de custos variou entre 0,6% e 6,7% do valor contratual” estabelecido. Um “luxo”, como dizem, mas um luxo em conta.
Sem facilitismos: a um milhão de euros gastos numa escola não é o mesmo que um milhão numa rotunda. A demagogia de Nuno Crato ainda vai sair cara ao país. Porque, no meio da vozearia, poucos parecem interessados em ler o que diz a auditoria mas apenas em gritar “luxo” e “despesismo”.
7 thoughts to “O facilitismo do facilitismo”
E agora Nuno Crato vai voltar atrás e fazer o que outros estavam a fazer…..está tudo doido…………………………….
Não se sabe bem o que é o tal de “eduquês” que tem enchido testos e mais textos tão contraditórios entre si quantas as opiniões expressas. Mas serve para entreter o pessoal.
Então, agora temos o “dificultês”?
independentemente do custo unitário das escolas, que eram 333, era de 2,08 milhões de euros
houve escolas que custaram 200 mil para remover umas placas de fibrocimento que paradinhas nem deitavam para o ar 0,01% do amianto que a renovação meteu no ar…
diga-se que 200 mil é um bocadinho exagerado para pôr 10 mil em telhas (pariram-se umas quantas outras já vinham partidas) de cimento simplex com fibras (ma nã de crisótilo)e parafusos e umas 10 latas de tinta..(pra pintar os postes)
e uns 2 meses de salários para 5 homens e 4 mestres de obras e um arquitecto (sabe-se lá porquê) e um projecto para mudar telhas
e se calhar um estudo de impacte ambiental sobre o pó
que seria gerado quando atiraram as telhas pró chão…
há aqui uma escola de 13 milhões ainda por concluir que tem sido uma mina de tijoleira cobre sacas de cimento e areia para quem queira ir buscar…admito mesmo que vá custar mais
do que o cine-teatro que já deitaram duas vezes abaixo e esperaram que a chuva amolecesse as estruturas infelizmente não choveu…
eu até gosto de casas de banho com ladrilhame de mármore
os alunos aparentemente também que levaram uns 50 metros quadrados
se calhar para daqui a uns anos quando tiverem casa
os elevadores para paraplégicos são bóptimos agora só temos que arranjar uns paraplégicos para subirem ao 1ºandar
que a manutenção dos dois bichos são 200 aeurios e tal por mês
(dava para pagar a uma cozinheira extra durante uns 5 meses..mas adiante uma cozinheira para 400 e tal alunos chega e sobra
até porque metade nem come ali e prefere uma sandes no bar ou um macdonaldas…e o resto atira o arroz à cara dos desfavorecidos associAis
assis acho que derrapagens de 70% nuns estores eléctricos que nem sequer funcionam ou em quadros electrónicos que gastam electricidade aos montes e terão de ter manutenção
são preferíveis aos projectores portáteis que tinham de se ligar ao computador e davam trabalho…
apesar de custarem muito menos e durarem mais
até tive colegas (colegas sã as putas come diz o mê prime qué desempregado crónique)coimbrãs parvas que compraram um para utilizarem nas aulas e desde 2005 devem tê-lo utilizado aí uns 6 ou 7 meses..
assis axo bem quesse soporífero nune crato
nã saiba fazer con tásse…
é pena que as escolas novas de boa traça
sejam um pouco mais disfuncionais que as velhotas
mas isse é azari…
Enquanto professor, nada me agradaria mais que escolas novas ou remodeladas, com excelentes acomodações para alunos e docentes, bons equipamentos pedagógicos e recreativos, cozinhas eficientes e instalações desportivas adequadas. Até porque, sabemos todos, a educação é sempre um bom investimento.
Mas, nesta altura, é necessário ter em conta, pelos menos, duas questões menosprezadas:
– a qualidade do ensino, na sua essência, não depende das questões materiais, mas sim dos seus próprios conteúdos e objectivos e das políticas educativas das últimas três décadas (que, diga-se honestamente, são facilitistas);
– em comparações simples e matemáticas, cada escola construída ou remodelada pela Parque Escolar ficou, em média, três vezes mais cara do que outras com áreas e necessidades iguais cujos encargos foram directamente assumidos por alguns municípios.
estranhamente, estes ministros mentem, e mentem tão aberta e continuadamente, que na sinapse larvar do silêncio, parecem reis de outro reino, com outros seres, outros momentos…
Como é mais que notório, este Governo, é muito , muito mau.
E como já nada atina a fazer, entrou, devem ser ordens do chefe, em dizer mal do “antes”.
Ficaríamos a poupar, se deixasse de haver Governo, e durante uns tempos os tipos da troika, emprestavam o dinheiro e contolavam custos, despesas e receitas.
Não era suspender a democracia como alguem já sugeriu, seria fazer uma remodelaçao de ideias, pessoas, mentalidades, e acertar contas….já chega de ouvir, ler, e ver tanto disparates.
E tantos que sempre andaram por lá a fazer mais do mesmo, parecem umas virgens aparaecidas, agora, do nada, tão puros, tão limpos, tão….
Rui chegou a ler o artigo do Daniel, sobre o resultado da auditoria á da Parque Escolar? O Ministério já veio desmentir, portanto, como de costume alguém está a mentir.
Cristina