“Dirás ao teu pai, o conde Tolstoi, que caíste. E que quem te levantou foi Fiodor Dostoievski.”

Jantei uma vez na casa de um extraordinário russo, na Rússia. A conversa fazia-se num inglês fragmentário, mas expressivo. O seu interminável repertório de histórias subdividia-se em diversas categorias; às melhores ele chamava “true fake”, ou seja “mentiras verdadeiras”, que não eram sequer mentiras mas apenas tão boas que mereceriam sê-lo. Depois vinham as “fake fake”, que eram mentiras mesmo mentiras mas suficiente boas para merecerem ser verdade. Quando as histórias eram tristemente verdadeiras, o meu anfitrião encolhia os ombros, fazia uma cara quase de quem pede desculpas, dizia: “this, my friend, is true-true”. Verdade verdadeira, meu amigo; o mais baixo da escala.

Os graus de importância eram pontuados com brindes de vodca. Os temas eram os absurdos da política e as grandes rivalidades literárias, em particular a de Tolstoi e Dostoievski. Os dois grandes escritores admiravam-se em público, invejavam-se em privado e desdenhavam-se no íntimo. Diz-se que uma pessoa pode tender a Tolstoi ou a Dostoievski, nunca a ambos. Os dois nunca se encontraram.

Fui levado ao apartamento onde devia dormir, de um português chamado João João. O primeiro João era o nome próprio, o segundo João o apelido. Chegámos atrasados; o castigo era dar de beber três copos de vodca. Com o cansaço (e o vodca) nem reparei que tudo na casa era em duplicado. Duas cozinhas, duas portas de entrada, dois tudo, exatamente simétrico.

No dia seguinte fui acordado por um etíope falando excelente português, que aprendera na embaixada como jardineiro. Fui ver a cidade. Quando voltei à noite, a casa tinha metade do tamanho. O cérebro não conseguia habituar-se ao sucedido.

Só depois me explicaram que os apartamentos dos tempos do coletivismo podiam ser sorteados entre dois estranhos, que tinhas de partilhar a vida e a suspeita recíproca de estarem sendo espiados. Hoje quem aluga um destes apartamento divide-o de imediato com um tabique.

Era o que tinha sucedido. As minhas coisas tinham ficado do outro lado.

Quando parti para o Norte, contaram-me a seguinte história.

A família de Tolstoi estava certa vez em São Petersburgo. O escritor detestava a cidade, mas a sua mulher gostava de sair do campo, as filhas iam aos bailes, e as crianças apreciavam a liberdade.

Nesse dia um dos filhos mais novos de Tolstoi saiu à rua acompanhado por uma ama, mas quando se apanhou cá fora largou a correr, fugindo até tropeçar numa pedra e se estatelar no chão.

O pequeno filho do célebre escritor não teve sequer tempo de começar a chorar. Foi erguido no ar por um homem magro, de barba negra e olhos intensos, que metiam instintivamente medo. E o filho de Tolstoi teve medo. O homem ajeitou-lhe o casaco e antes de se ir embora, avisou-o: “Dirás ao teu pai, o conde Tolstoi, que caíste. E que quem te levantou foi Fiodor Dostoievski.”

9 thoughts to “Mentiras verdadeiras

  • rui roque

    True fake,fake fake ou true true??? e depois da vodka, o nome do português manteve-se a dobrar???

  • Filipe Falé

    Tá giro!

  • Registei a sua reclamação no livro dos mações aqui da loja, mas lamento informar que aqui não se conversa quanto muito trocam-se linhas

    Um extraordinário russo na rússia?
    Isso há poucos, a maioria dos extra-ordinários são tártaros, cazaques, tchetchenos, iugures e cossacos que se dizem russos, mas montaram tanta égua na história, que de russos só têm o nome.
    Se uma pessoa se entende ou se estende a Tolstoi no diabo branco e se alarga ao Dos toi nos contos curtos, chama-se elástico ou elastómero?
    Diz-se que uma pessoa pode tender a Tolstoi ou a Dostoievski, nunca a ambos.
    en tendimentos seus tendinosos quiçá….
    os apartamentos alugados na rússia czarista aos estudantes pobres e ao operariado também sofriam com a divisão e a tabicagem
    Já lá dizia Henri Troyat…nascido na rússia czarista como
    Լևոն Ասլանի Թորոսյան os arménios são tramados

    infelizmente morreu com o início da crise
    mais 4 anos e tinha um cento deles…

  • Este pessoal emborca só vodka e literatura como os russos?

    E feijões do Lidl não?
    José Manuel Santos de Magalhães é um político português.

    Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa e é Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

    Como militante do PCP foi assessor parlamentar entre 1977 e 1983 e deputado à Assembleia da República entre 1983 e 1990. Na sequência da perestroika desvinculou-se daquele partido, foi um dos fundadores do INES que reuniu quadros, dirigentes e militantes empenhados na renovação do PCP, mas não esteve entre os membros da Plataforma de Esquerda, tendo optado mais celeremente pela ruptura política. Tendo sido um dos mais destacados protagonistas da revisão constitucional de 1989, ao longo da qual adquiriu notoriedade política, veio a ser considerado pelas instâncias partidárias responsáveis pelo combate à dissidência interna como elemento ligado ao “grupo dos seis”. O seu especial papel na ligação entre estes e a deputada Zita Seabra, membro da Comissão Política — cujas reuniões e decisões viram drasticamente alterado o secretismo que fora seu timbre —, levou à adopção de medidas de segurança cuja frustração conduziu a uma degradação e isolamento progressivo do parlamentar. Tendo declarado publicamente que a forma como Mário Soares
    É interessante como tanto gigante joga com os anões e gnomos de Jardim
    Sinceramente não me lembro de nenhum romance russo com personagens destes calibres.
    Deve ter sido porque somos muito mais evoluidos.
    E não nos embrutecemos com vodka.
    coisa de cadastrados
    é muito melhor charuto e cognac…

  • Dirás ao teu pae o senescal do reyno que andaste a servir a casa pia e seus pios senhores...

    e quem te levantou foram homens bons e de bons costumes
    quedai-vos da curiosidade dos profanos
    que aventar é bom, mas nem todos podem aventar
    só aventa quem pode
    ou quem tem um avental dos taes…
    são aventaes senhor são aventaes
    e com tabiques e trambiques

  • A verdadeira verdade da men tira tira é a palavra escrita se sobrepor ao discurso oral na memória e portanto na eternidade fugaz das civilizações

    ou na civilizacional fugaz eternidade ou…

    Torna-se muito mais fácil odiar ou invejar alguém pelo que escreve
    do que pelo que diz que é geralmente muito mais reflexo de si próprio do que a escrita

    Assim alguns consideram a obra deste ou daquele maior ou mais anÃzinha con soante as suas próprias Idei-as e Ideo loggias se aproximam das do autor ou se podem con formar com as do author

    assim antónio ferro é um fascista elegível camilo é um mártir sofredor eça é um paladino incon formado
    os maias são o apocalipse da literatura e enfim tal e coiso

    Se a obra de 1862 deu imortalidade (relativa) a um autor “martirizado” que tal como outras memórias do cárcere apelam à burguesia culta que opta por experienciar coisas novas e desagradáveis em 2ª mão

    toda a literatura é uma forma primitiva de escapismo virtual
    em que o leitor se Imerge? podendo abstrair-se do que o rodeia
    ou julgar o que o rodeia pela miragem que absorve via livro ou página alimentada a electrões…

    Nas memórias do cárcere de graciliano ramos ou de camilo ou no arquipélago de gulag
    prepassam realidades muito diversas da zapiski iz mertvogo doma (doma de domus dá duma dá duas dÁ TRÊS bolas…
    As Record acções da Casa dos Moritur te salutamus buéréré
    ou as Memórias da doma mais camorta dependem de muito
    da sintonia leitor escritor relativamente a essas experiências comuns ( ou incomuns) da tradução ser facilitadora da transmissão de Idei-as mas eles não as receberem

    do tradutor ser fiel aos coloquialismos da época e aos subenntendidos e tendões que endurecem a carne literária

    curioso é que ninguém ou quase ninguém (relativamente falando tenha lido zapiski iz podpolya ou se leu não a considerou uma obra igualmente relevante de resto tem mais traduções alternativas que a 1ªMemórias do Subsolo, Notas do Subterrâneo, A Voz do Subsolo, Cadernos do Subsolo
    o Crime e Castigo é a obra moral predestinada à consagração em hollywood e em mini-séries mais numerosas que as que darão as do howard fast fast ….que nos apanham

    O Jogador é a obra com que mais leitores (pela estrutura maníaca subjacente ao leitor) se Identes ficam

    os Brata ou brrátia kara korum mazov ou mazute sunt une prose admirabilis mas com tante de Идиот e de filme de época como a guerra e pax e a ana quera nina podrostok tamém sofre do mesmo
    pois as suas angústias não são intemporais são age de pendente

    os besy de dos toi sunt muito mai negros que os demónios de tollan stoi pois nem se baste poll ou poll tax

    tolstoi não é as crónicas de sebastepol é mais o demónio ou diabo branco
    o senhor feudal que comanda as arremetidas dos cossacos
    contra a ralé que invade a santa terra russa

    não o diminui como pensador…

    mas nem ele nem marche march podem renegar as suas origens que contaminam as suas visões do mundo

    Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.

    Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas.

    Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra.

    Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.

    Em vão, centenas de milhares de homens, amontoados num pequeno espaço, se esforçavam por desfigurar a terra em que viviam. Em vão, a cobriam de pedras para que nada pudesse germinar; em vão arrancavam as ervas tenras que pugnavam por irromper; em vão impregnavam o ar de fumaça; em vão escorraçavam os animais e os pássaros – Em vão… porque até na cidade, a primavera é primavera.

    O homem pode viver 100 anos na cidade sem perceber que já está morto há muito tempo

    A felicidade é estar com a natureza, ver a natureza e conversar com ela.

    um escritor ou um leitor são dominados pelos seus bezy ou bessssy interiores sejam esses demónios santos homens ou crápulas e isso prepassa na sua visão do mundo

    não há escritores nem lei thor és isentos e neutros
    nem neutros e Isensei…

    se a Isabel do Carmo só viu putas na prisão elas eram obviamente isso
    e não gente que quebrava as leis vigentes para alimentar o corpo
    vendendo-o ou roubando outros corpos vivos ou mortos

    se só ares se viu como paladino num mundo infestado de cadastrados
    merecedores das penas do cárcere e da limpeza das latrinas eles assi o eram

    a dignidade da libertação pela morte e pelo martírio não é para todos

    há quem apanhe a 666 virgens e há quem sirva só de adubo
    há quem avente merda e lhe chame poesia
    e quem avente poesia que é pura merda

    no fundo no fundo nada subsiste
    ou a pressão os esmaga no esquecimento ou a subduccção lenta os recicla em silicatos de aluminio e minoritariamente em dióxido de carbono e vapores de água

    já os saurópodem diziam isto há bué de annos
    mas eram todos analfabrutos
    ninguém lhes ligou…até porque não tinham telemóvel
    pelintras…

  • A verdadeira verdade é que todos os autores e leitores são acidentaes ou básicos dentaes ou fios dentaes

    O REGA O BOFE PODE VOLTAR A SACIAR AS É LIGHTS COM…eu defendo mais moeda para eu gastar que sou um escritor pobrezinho e bué de gastador em folhas de papel é que escrevo tudo em notas disse ALL BERTO CORSÁRIO DAS ILHAS MARAVILHAS

    há quem escreva diz cursos polliti e há quem os leia

    e há quem leia slogans básicos e se reveja neles

    há xéxés e bébés pra tudo…
    (adupla a cem tua a são num é primitida na língua ardente
    ao bafo de onça da escura voz..
    a língua é fogo ardente
    da patria com t de todos nós
    maldito quem loucamente etc etc etc

  • A Verdadeira Bera Tragédia dus Putogoeses é essa sanha Malsã pela i literatur e de a citarem como a bíblia

    Os B-log’s essa Maçonaria das Paroles e Parolos

    Todo o putogoês é um Literatum Ileterado em Butão ou em Butantan

    Floresce abrindo livros que caihram no Index dos melhores ou peores

    De todos os tempos e extasia-se e toma partidos

    Identifica-se mais com este e não grama aquele

    Sentimo-nos Superiores às tantas somos almas gémeas ou trigémeas

    do excelso Architectum das palavras que nos regem

    Achamos que os restantes são estúpidos inferiores diferentes

    por vezes engraçados nas suas falsas fés por vezes obtusos

    Somos um país de grandes escritores e poetas que nunca triunfaram

    tudo graças à inveja de deuses menores que nos subalternizaram

    Nós gostamos dos excêntricos desde que eles não façam templos

    aos seus deuses literários

    Os nossos é que são bons os dos outros isse varia…

    É um paternalismo que começa na li terra tur

    e se estende ao turismo e a todo o resto nesta sucia dada opinativa

    as nossas opiniões são bóptimas

    as nossas theorias sobre a in con ó mia

    ou sobre a classe regente é que são

    os restantes deviam fazer-nos o obséquio de as aceitarem

    é uma sociedade que se afoga em vodka a fingir qué voda…

    e em amigos russos pois pelo menos são civilizados não são pretos…

    sunt bielo…

    são cá dos nossos (salvo seja ou diz-se sal buta mol?)

  • Manda a vontade que me prende ao QRENe d'EL ReY DOM MANEL AO SEGuNDO

    Oh grande Avatare do Eurro poque não dizeis a Vosso Pae B.Loki que caíste no Eurro
    E foste levantado do Eurro pela Louçã Forza Que Sahiu Porta Fora?
    O Regresso do Filho Pródigo sempre é melhóre que os filhos do Loki
    que não desertaram a casa paterna

    e apela aos votantes…reunificações e renovações
    o perdão é di viño o pecado de eurrare est humanum
    et humanum nihil te alienum puto…puto

    esta nã é muito críptica nã…é queu sou um oráculo dus gagos…

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