The Eclipse of the Sun / George Grosz, 1926 / Heckscher Museum of Art

Estamos a viver uma falsa bonança. A pressão sobre o euro parece ter acalmado, os governantes suspiram de alívio em público, as notícias entraram numa rotina mais normal do que nos últimos anos. E no entanto, no plano de fundo, as más decisões sucedem-se. 

Na semana passada foi publicada no blogue “Vias de Facto” uma frase lapidar: “Responsabilizar a democracia direta pelos resultados do referendo suíço é tão demagógico quanto responsabilizar a democracia representativa pela ascensão da família Le Pen”. O seu autor, Zé Nuno Matos, resumiu em poucas palavras o que eu tentei dizer em bastantes mais na minha crónica da semana passada (“Absolutismos”, sobre como decisões erradas, no caso sobre a imigração e o euro, podem ser tomadas tanto em democracia direta na Suíça como pelo “colégio de sábios” do Tribunal Constitucional Alemão).

Pode haver aqui uma ironia, porque eu não sei se a frase se referia à minha crónica. Mas eu concordo com o comentário, acho que ele é complementar ao que escrevi, e para ilustração não há melhor do que algumas das reações ao próprio referendo suíço.

Em Bruxelas, em concertação com os governos europeus, os burocratas fazem os seus disparates habituais. Os primeiros instrumentos a serem afetados, em resposta ao referendo suíço, foram o programa Erasmus e os intercâmbios de cientistas. Seria difícil imaginar uma reação pior. A mensagem que ela comunica é que a União Europeia está disposta a retaliar sobre estudantes e cientistas, ao mesmo tempo que todas as trocas de serviços financeiros com a Suíça restam intocadas. Nem sequer se safa a posição “legalista” a que a Comissão Europeia se remeteu na semana passada, dizendo que pondo em causa um instrumento de cooperação com a União, a Suíça poria em causa todos os instrumentos, incluindo o acesso ao mercado único. Aí há interesses demasiado grandes para se bulir com eles; em troca, podemos sacrificar as pessoas comuns, sempre elas, as mesmas que foram o alvo do referendo suíço, só com passaportes diferentes.

***

O que se está a passar? Também não tenho uma resposta definitiva. Nem sequer tenho a pergunta certa. Só me parece que ela não está em saber se os cidadãos são melhores do que os burocratas, os juízes melhores do que os políticos, ou os jornalistas melhores do que eleitores.

O máximo com que posso contribuir é com uma mera impressão: estamos a viver uma falsa bonança. A pressão sobre o euro parece ter acalmado, os governantes suspiram de alívio em público, as notícias entraram numa rotina mais normal do que nos últimos anos. E no entanto, no plano de fundo, as más decisões sucedem-se. Todas elas se caracterizam por um egoísmo fundamental e uma recusa em admitir que nada mudou. Nem o poder da banca foi limitado, nem a moeda foi reformada, nem as instituições foram democratizadas, nem a resposta política traz consigo qualquer tipo de esperança. E entretanto, lá longe na Ucrânia e na Síria — aqui tão perto — a violência lavra já sem quartel.

Começámos o ano desejando que 2014 não fosse como 1914. E para já estão a ser muito parecidos. Nesta primeira metade do ano há no ar uma espécie de acalmia podre, e no solo uma animosidade recíproca. Há dias em que ninguém está isento dela — cidadãos, políticos, funcionários, jornalistas. Só espero que depois da falsa bonança não venha a verdadeira tempestade.

(Crónica publicada no jornal Público em 19 de Fevereiro de 2014)

7 thoughts to “Falsa bonança

  • ah então foi issus ,,,agente num tinha pecebido

    ÓTIMO BORA LÁ RESPONSABILIZARE A DICTATURA…PODE SERE A DO JOÃO FRANCO?

    e a demographia e a demagogia podemos culpar essas
    é que os velhadas morrem de medo de cousas que num compreendem

    accontece em todos os séculos frases sem significado ou actos sem significado parecerem significar algo
    mim ispilica

    HONTEM NA ESTAÇÃO DO ROCIO VI PAPUSS, METHIA-SE EM UMA CARRUAGEM
    DE PRIMEIRA UM HOMEM VESTIDO COM UM PALETOT DE COIRO
    É O QUE TEVE ARTES DE CONSEGUIR QUE TRINTA E TRES MIL LISBOETAS
    FOSSEM VÊ-LO EM ESTADO DE CATALEPSIA E A ESTA CATALEPSIA CHAMOU-SE
    FAKIRISMO A UM SOMNO DE OITO DIAS.
    D’AHI OS TRINTA E TRES MIL BADAUDS, SUCCEDEU QUE PAPUSS NÃO DORMIA N’UMA CAIXA DE VIDRO LACRADA PELA SCIENCIA
    -QUE COME ELE? UM JORNAL ALVITROU -COME O PUBLICO…
    EMBOLSADO OS LUCROS, QUANDO SE ASSENTOU DE COMUM ACCORDO QUE PAPUSS
    ERA UM IMPOSTOR
    AH! MEU CARO SENHOR FUI EU QUE INVENTEI ESTE MODO DE VIDA, MAS POSSO ASSEGURAR-LHE QUE É O PEIOR QUE SE PODE INVENTAR
    EU RETORQUI
    CREIO BEM, MEU AMIGO CREIO BEM
    (NO FRANCEZ QUE ELLE FALLA QUE NÃO DEIXA DUVIDAS SOBRE A SUA ORIGEM)

    AI NÃO DEIXA não….

  • ah então foi issus ,,,agente num tinha pecebido

    SCIENTISTAS? TAmbém há câmbio para isso? estão a quanto?

    dissabte, 1 març de 2014
    DA CARNE QUE JAZ MORTA E APODRECE…NA CARNE VIVA DA DEMOCRACIA A CULPA MORRE SOLTEIRA? JÁMÉ….PUTREFACIENTES Pseudomonas Acinetibacter Aeromonas Alteromonas Kurthia
    ADITIVOS & INGREDI
    As carnes são formadas principalmente de proteínas, gorduras e
    água, em proporção que varia minimamente dependendo do animal político.
    A carne magra dos coelhos de longos passos apresenta em torno de 75% de água,
    21% a 22% de proteína,1% a 2% de gordura, 1%de minerais e menos de
    1% de carboidratos.
    A quantidade de calorias é
    relativamente pequena,
    com média de 105 kcal/100g de carne crua.
    Os tecidos internos dos animais sadios não contêm
    bactérias no momento do abate, entretanto,
    quando as carnes processadas são expostas, diversos tipos e
    quantidades de microorganismos do ambiente dos intestinos e pele ou doutras visceralidades e de
    serras e facas empregadas para cortar a carne. Cada novo corte expõe uma
    nova superfície, com o potencial de acréscimo de mais microorganismos no
    tecido exposto. Picar ou moer a carne
    propicia a exposição de um grande número de novas superfícies e permite
    um alto potencial de contaminação. A contagem microbiana em hambúrguer,
    por exemplo, pode chegar de 5.000.000
    a 10.000.000 por grama de amostra.
    ESVERDEANTES OU QUE DÃO TONS VERDES À CARNE – Proteus Lactobacillus Clostridium
    Flavobacterium,
    ACIDIFICANTES Microbacterium Alteromonas Pediococcus Streptococcus
    LIPOLÍTICAS Pseudomonas Micrococaceas
    Metabólicas indeterminadas Chromobacterium (raras)
    DOMINANTES NAS CARNES POLITIZADAS Pseudomamonas Entrequejahbatem
    Publicat per Para a culpa morrer casada com a demo da kracia
    Etiquetes de comentaris: ai apodrece apodrece a culpa não é da democracia é das bactérias que apodreceram a carne dos animais políticos

  • falsa quê bonne ansa ou hansa?

    os hommes num sunt perfectus têm todos medo do futuro

    e nostalgias republicanas dum passado inexistente

    De Officiis (On Duties or On Obligations) is an essay by Marcus Tullius Cicero divided into three books, in which Cicero expounds his conception of the best way to live, behave, and observe moral obligations.

    De Officiis was written in October–November 44 BC, in under four weeks. This was Cicero’s last year alive, and he was 62 years of age. Cicero was at this time still active in politics, trying to stop revolutionary forces from taking control of the Roman Republic. Despite his efforts, the republican system failed to revive even upon the assassination of Caesar, and Cicero was himself assassinated shortly thereafter.

    The essay was written in the form of a letter to his son with the same name, who studied philosophy in Athens. Judging from its form, it is nonetheless likely that Cicero wrote with a broader audience in mind. The essay was published posthumously.

    De Officiis has been characterized as an attempt to define ideals of public behavior. It criticizes the recently overthrown dictator Julius Caesar in several places, and his dictatorship as a whole.

    Contents[edit]

    Although Cicero was influenced by the Academic, Peripatetic, and Stoic schools of Greek philosophy, this work shows the influence of the Stoic philosopher Panaetius. The essay discusses what is honorable (Book I), what is expedient or to one’s advantage (Book II), and what to do when the honorable and expedient conflict (Book III). Cicero says they are the same and that they only appear to be in conflict. In Book III, Cicero expresses his own ideas. Michael Grant tells us that “Cicero himself seems to have regarded this treatise as his spiritual testament and masterpiece.”

    Cicero claims that the absence of political rights corrupts moral virtues. Cicero also speaks of a natural law that is said to govern both humans and gods alike.
    Cicero urged his son Marcus to follow nature and wisdom, as well as politics, and warned against pleasure and indolence. Cicero’s essay relies heavily on anecdotes, much more than his other works, and is written in a more leisurely and less formal style than his other writings, perhaps because he wrote it hastily. Like the satires of Juvenal, Cicero’s De Officiis refers frequently to current events of his time.

    Legacy[edit]

    The work’s legacy is profound. Although not a Christian work, St. Ambrose in 390 declared it legitimate for the Church to use (along with everything else Cicero, and the equally popular Roman philosopher Seneca, had written). It became the moral authority during the Middle Ages. Of the Church Fathers, Saint Augustine, St. Jerome and even more so St. Thomas Aquinas, are known to have been familiar with it. Illustrating its importance, some 700 handwritten copies remain extant in libraries around the world dating back to before the invention of the printing press. Only the Latin grammarian Priscian is better attested to with such handwritten copies, with some 900 remaining extant. Following the invention of the printing press, De Officiis was the second book to be printed—second only to the Gutenberg Bible.

    Petrarch, the father of humanism and a leader in the revival of Classical learning, championed Cicero. Several of his works build upon the precepts of De officiis. The Catholic humanist, Erasmus, published his own edition in Paris in 1501. His enthusiasm for this moral treatise is expressed in many works. The German humanist, Philip Melanchthon established De officiis in Lutheran humanist schools.

    T. W. Baldwin said that “in Shakespeare’s day De Officiis was the pinnacle of moral philosophy”.Sir Thomas Elyot, in his popular Governour (1531), lists three essential texts for bringing up young gentlemen: Plato’s Works, Aristotle’s Ethics, and De Officiis.

    In the 17th century it was a standard text at English schools (Westminster and Eton) and universities (Cambridge and Oxford). It was extensively discussed by Grotius and Pufendorf.Hugo Grotius drew heavily on De officiis in his major work, On the Law of War and Peace. It influenced Robert Sanderson and John Locke.

    In the 18th century, Voltaire said of De Officiis “No one will ever write anything more wise”.Frederick the Great thought so highly of the book that he asked the scholar Christian Garve to do a new translation of it, even though there had been already two German translations since 1756. Garve’s project resulted in 880 additional pages of commentary.

    It continues to be one of the most popular of Cicero’s works because of its style, and because of its depiction of Roman political life under the Republic.

    Quotes[edit]

    ..and brave he surely cannot possibly be that counts pain the supreme evil, nor temperate he that holds pleasure to be the supreme good. (No man can be brave who thinks pain the greatest evil; nor temperate, who considers pleasure the highest good.) (Latin: fortis vero dolorem summum malum iudicans aut temperans voluptatem summum bonum statuens esse certe nullo modo potest) (I, 5)
    We are not born, we do not live for ourselves alone; our country, our friends, have a share in us. (We are not born for ourselves alone.) (Latin: non nobis solum nati sumus ortusque nostri partem patria vindicat, partem amici) (I, 22)
    Let us remember that justice must be observed even to the lowest. (Latin: Meminerimus autem etiam adversus infimos iustitiam esse servandam) (I, 41)
    Let arms yield to the toga, the laurel defer to praise. (Latin: cedant arma togae concedat laurea laudi) (I, 77)
    It is the function of justice not to do wrong to one’s fellow-men; of considerateness, not to wound their feelings; and in this the essence of propriety is best seen. (Justice consists in doing no injury to men; decency in giving them no offense.) (Latin: Iustitiae partes sunt non violare homines, verecundiae non offendere, in quo maxime vis perspicitur decori) (I, 99)
    Is anyone unaware that Fortune plays a major role in both success and failure? (Latin: Magnam vim esse in fortuna in utramque partem, vel secundas ad res vel adversas, quis ignorat?) (II, 19)
    Of evils choose the least. (Latin: Primum, minima de malis.) (III, 102)
    Time heals all wounds. (Latin: Diem adimere aegritudinem hominibus.) (I, 30)

  • false bon hanse

    não estamos sim a VIVER o 3º período de secessões desde 1918

    em 96 anos até nem se pode dizer que tenha sido muito

    e a última começou há 20 e poucos anos

    até poderíamos dizer que esta era a 2ª parte do filme perestroika mas há sempre o tito no meio
    e a catalunha e a escócia e les choux de chelles e….

  • Dorothea

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