Porém o Bloco teve o seu pior resultado, as razões, contudo, não estão nas condições externas, mas num desencontro entre eleitorado e partido sobre aquilo que ele poderia ser.
1. O problema do Bloco nas sondagens não começou com o apoio a Manuel Alegre, nem com a moção de censura, nem com a falta à reunião da troika, nem com os possíveis ziguezagues entre uma coisa e outra.
Pedro Magalhães, politólogo e especialista em sondagens, publicou no seu blogue um gráfico no qual as intenções de voto no BE caem quando a campanha de Manuel Alegre começa a correr mal. Mas antes dessa descida o BE tinha também subido com Manuel Alegre, voltando a ser o terceiro maior partido em intenções de voto. O efeito, antes e depois, parece uma pequena montanha num vale não muito profundo. Cujo declive tinha começado no segundo de 2009. Foi aí que parou a imparável tendência de crescimento do BE.
Com efeito, o BE passou grande parte de 2009 numa cordilheira, sendo o terceiro partido mais votado, tendo resultados quase sempre acima dos dez por cento, chegando até a passar dos quinze. Durante talvez um semestre os inquiridos pareciam querer fazer do BE a grande surpresa política do país. Mas houve um momento, talvez um pouco antes das penúltimas legislativas, e certamente logo após estas, em que se percebeu que o BE não ia contar para a mudança — talvez compreensível — e que parecia contentar-se com isso — menos compreensível.
Semanas depois, o BE teve um péssimo resultado em Lisboa, onde tudo começara. A sua base precursora estava a tentar dizer-lhe algo.
2. Avancemos para o presente. Ao contrário do que se diz sobre as eleições mais recentes, as condições externas não eram agora desfavoráveis para o BE. Se outrora me tivessem dito que, um dia, em 2011, Portugal iria a votos com o FMI instalado no país, a convite do PS, numa total reviravolta do Primeiro-ministro, eu responderia “grande resultado para o Bloco”. O mesmo diriam os dirigentes do Bloco que, valha a verdade, fizeram uma boa campanha, acertando em cheio no tema principal da renegociação.
E porém o Bloco teve o seu pior resultado, não em termos absolutos, mas na proporção de votos perdidos e na dureza da mensagem que o eleitorado próximo do Bloco lhe enviou.
As razões, contudo, não estão nas condições externas, mas num desencontro entre eleitorado e partido sobre aquilo que ele poderia ser. O tal desencontro que começara no segundo semestre de 2009.
3. Chegados aqui, o debate sobre o BE é crucial para toda a esquerda portuguesa. A grande esperança de dinamização nela representada pelo BE entra agora no troço mais difícil do seu caminho, e já há encruzilhadas à vista.
A primeira diz respeito ao tipo de debate que o BE quer fazer sobre si mesmo, escolha para a qual os seus militantes são inteiramente soberanos, mas que será vista com atenção por todos os portugueses de esquerda.
A questão é se esse debate vai ser aberto ou fechado. O debate aberto tem grandes vantagens e alguns riscos; o grande risco do debate fechado é ele ser muitas vezes o plano B de quem não quer debate nenhum.
Isso ficou ilustrado na forma como Luís Fazenda respondeu às críticas de Daniel Oliveira. Não discutir razões e perguntar apenas “Quem é Daniel Oliveira?”, como fez Fazenda, é um não-argumento. Significa uma recusa do debate através da recusa do interlocutor. Esperei sinceramente que dirigentes do BE viessem a terreiro dizer com clareza que esta forma de não-discutir é imprópria de um partido democrático que tenha confiança em si mesmo.
O Bloco ganhará em correr o risco do debate aberto e sem medo, o único que o pode ajudar neste momento. O fechamento, ainda para mais temperado em sobranceria, só levará à estrada do masoquismo-leninismo.
10 thoughts to “Bloco: duas ou três coisas que sei sobre ele”
Significa para o Rui Tavares. Para mim, significa que o Luís Fazenda não quis responder ali e naquele momento. Significa também que quis expressar que o Bloco vale muito mais do que os caprichos mediáticos de duas ou três individualidades que, em auto-representação, sem medir o impacto do que fazem, têm os média ao seu dispor para fazerem luzir os seus umbigos.
E isto para lhe colocar a questão: Debater, para si, tem que ser na praça pública ou, como eu, defende que o debate se faça em sede própria? É que, nos outros partidos, se a memória não me falha, sempre que as dissidênciazitas e protagonismos individuais de algumas estrelas se sobrepuseram no espaço noticioso ao que interessa, as propostas de cada partido, esses partidos obtiveram copiosas derrotas. Defende que o Bloco seja diferente também nisto? Sinceramente, acho um disparate. E a democracia não se mede pela satisfação dos caprichos de ninguém.
Uma última questão. O Rui está no Parlamento Europeu porque a liderança que agora critica confiou em si ao ponto de colocá-lo em terceiro na lista que foi a votos. Quem o elegeu, e um deles fui eu, fê-lo sabendo dessa confiança que depositaram em si. Ora, graças ao Rui, esse pressuposto desapareceu. Agora, o Rui Tavares está no PE a representar-se a si próprio. Demitir-se antes de assumir publicamente a posição de ruptura que vem assumindo não teria sido a decisão eticamente mais aconselhável? Para mim, continua a ser.
Já votei no Bloco e já não votei no Bloco. Precisamos dum Bloco com todos os Rui Tavares e todos os Daniel Oliveira. Não precisamos dum Bloco feito só de Fazendas e Tourais.
Não precisamos dum Bloco que diz aos militantes que se demitam quando exprimem opiniões sérias e produzem pensamento para uma discussão à esquerda. Para isso já há o PCP. E o original é sempre melhor que a cópia.
Caro Filipe Tourais,
Olhe que assim como o senhor votou no Rui Tavares por ele estar nas listas do BE, houve quem votasse no BE pelo facto de o BE ter o Rui Tavares na sua lista de candidatos. Por isso também se pode inverter a questão: o BE conseguiu um bom resultado nas eleições para o PE e elegeu o terceiro deputado – o que aliás foi uma surpresa – precisamente porque o candidato ao terceiro mandato era o Rui Tavares.
Subscrevo Rui. O Bloco não pode tornar-se numa cópia do PCP.
Curioso.
1. “Não precisamos de um Bloco que diz aos militantes que se demitam quando exprimem opiniões sérias e produzem pensamento para uma discussão à esquerda. Para isso já há o PCP.”. Estamos de acordo. Mas também não precisamos de um Bloco com militantes que dizem aos militantes legitimamente eleitos em CN para encabeçarem as listas que se demitam quando há eleições que não correm bem, apesar da boa campanha, das capacidades e competência dos candidatos serem reconhecidamente elevadas e das propostas apresentadas serem ricas e coerentes. Para essas mudanças cosméticas já há os outros partidos.
2. “Já votei no Bloco e já não votei no Bloco. Precisamos dum Bloco com todos os Rui Tavares e todos os Daniel Oliveira. Não precisamos dum Bloco feito só de Fazendas e Tourais.” Há aqui muitas realidades misturadas. Há três militantes e um independente. Há três nomes conhecidos e um desconhecido, eu. Há três que não usam os órgãos próprios do BE para apresentarem as suas propostas, eu incluído. E há dois que, apesar do momento eleitoral, em vez de se concentrarem no objectivo comum da eleição, exprimem publicamente as suas divergências para que outros as aproveitem para prejudicar esse objectivo, eu novamente também fora do grupo.
Não se deve esquecer também a figura do mandatário do BE nas eleições europeias, que pode ter dado alguma força a essa lista, alguma visibilidade que terá contribuido para a eleição de 3 deputados europeus.
Convinha não apagar a história nem o Homem, apesar de estar na moda agora dizer que não se apoia nem se tem nada a ver com alguém (o “indivíduo”, na linguagem malcriada de DO), que em determinado momento foi importante na afirmação do BE.
Epah…a sério…Vocês andam-se a matar uns aos outros e daqui a uns tempos, do BE só sobram cacos.
Digo aqui o que sinto em relação à mais recente polémica, porque, compreendo porquê, tem os comentários fechados no post onde responde a Francisco Louçã. Sinceramente, acho que faz uma grande diferença citar «Francisco Louçã escreve que o jornalista do primeiro artigo “tinha sido levado ao engano por uma informação de uma conversa com o Rui Tavares”» o que não corresponde exactamente à verdade. O que vejo é: «Explicou depois o jornalista que tinha sido levado ao engano por uma informação de uma conversa com o Rui Tavares.»
Ora, eu acho que isto, escrito desta forma, em nada o incrimina e em nada me parece insultuoso para si, ao contrário da forma como deixa crer na sua nota.
Mas digo isto com toda a amizade de alguém que não conhece pessoalmente, nem um, nem outro e que pede humildemente desculpa pelo atrevimento de se por aqui a opinar sobre o assunto.
O que fala neste momento é o desejo forte e sincero de que parem as lutas surdas e cegas dentro do BE e da esquerda no geral.
Caro Rui Tavares, como no post da sua nota sobre o Louça não admite comentários
Pergunto-lhe.
Teve alguma conversa com um jornalista do Jornal I , sobre a fundação e os fundadores do BE?
Se teve , admite ter esclarecido mal o jornalista?
Se não teve, não acha abusivo que um jornalista utilize o seu nome, para escrever uma noticia, com dados incorrectos?
Não teria sido avisado da sua parte ter-se informado de quem foi o jornalista que avançou com o seu nome como fonte da informação, ter esclarecido com ele o porquê de ter citado o seu nome , antes de publicar esta nota.
Entendo que o Rui Tavares como independente, tenha todo o direito ás suas opiniões, cito a sua posição sobre os bombardeamentos da Nato á
Libia, de que já se deve ter arrependido, face á evolução dos acontecimentos.
Agora parece-me escessiva a sua indignação, antes de tirar a limpo, de onde partiu o uso do seu nome, para escrever a noticia.
Cumprimentos
Augusto Ribeiro Pacheco
Caro Filipe Tourais: Os bons velhos “não comento” ou “só falo em sede própria” significa o que estás a dizer, enquanto o “quem é Daniel Oliveira?” significa não respondo porque não conheço o Daniel Oliveira, não posso responder a todas as pessoas que não conheço etc etc… Há coisas que são tão simples que podem parecer estranhas. Esta acho mesmo só simples.
Outro reparo. Esta história de aceitar “os caprichos mediáticos de duas ou três individualidades” quando elas são concordantes e renegar absolutamente os sujeitos quando estão discordantes, ou pensar que quando reflectem o pensamento oficial do Movimento (Partido afinal?!) iluminam o mundo mas quando dele divergem “fazem luzir os seus umbigos” é também, sei lá, oportunista talvez?
Caro(a) m.: “Para isso já há o PCP. E o original é sempre melhor que a cópia.” Tenho um amigo que verdadeiramente atrapalhado e confuso e com montanhas de afazeres chegou ao momento do voto sem saber em quem votar. Pela primeira vez na vida. E pela primeira vez na vida votou de repente PC. Achei eu que era por ser um voto sempre seguro. Eu que nunca votei no PC.. Cheirar-lhe-ia a cópia?
Vamos, minha gente, não andemos à tareia.
Continuamos a ser de esquerda e a defender essencialmente as mesmas coisas.
Enquanto andarmos nisto quem ganha é a direita.
Eles, evidentemente, estão unidos por trás dos seus líderes, pelo menos enquanto acharem que eles os levam a cargos políticos e/ou administrativos e outras benesses institucionais…
Nem vou dizer o que penso das atitudes das pessoas envolvidas nesta história. Por mim estão todas perdoadas desde que continuem a defender as coisas em que acredito.