O primeiro-ministro da Finlândia tem sido um dos líderes europeus que mais se tem oposto a qualquer solução europeia para esta crise europeia, e já por vezes estivemos dependentes dele.

Às vezes um tipo ainda se pergunta como pode ser que as decisões dos políticos europeus sejam tão sistematicamente más. Depois acontece ouvir, como eu ouvi ontem, o primeiro-ministro da Finlândia dizer que os portugueses estão a sofrer cada vez mais mas que o programa em Portugal está a funcionar.

Depois ouvi-o rejeitar a ideia de emissão de divisão europeia, os chamados eurobonds, sob o pretexto de que “já tivemos eurobonds no tempo em que os juros de todas as economias da zona euro eram baixos, e isso não foi bom”.

Eis o pior tipo de pensamento. Aquele cujo problema deixa de ser não estar certo para passar a nem sequer conseguir estar errado. Este é um pensamento tão confuso, tão preconceituoso, tão pouco claro, que não tem sequer as condições para se candidatar a ser um falhanço. E é assim que pensam os nossos líderes.

Nem dá para saber onde começar. Eurobonds é o nome genérico que se dá a dívida emitida à escala da zona euro (que poderia vir sob duas formas: mutualizada ou federal, se essa dívida for emitida diretamente com garantia de uma instituição supranacional). Em geral acredita-se que os juros usufruídos por essa dívida seriam baixos, porque a zona euro emite a sua própria moeda e cobre um mercado forte de 300 milhões de habitantes, entre outras razões. A ideia de Katainen é que como tivemos juros baixos na primeira década do euro, numa época em que (como hoje) cada estado emitia a sua dívida, isso corresponderia à mesma coisa que os eurobonds. Ora a questão central dos eurobonds não está nos juros baixos, mas nos juros estáveis, previsíveis e sustentáveis, coisa que a dívida nacional após a primeira década do euro provou não ser.

Katainen nem chega a esse nível de detalhe. Ele parece apenas acreditar que duas coisas que produzem (momentâneamente) o mesmo efeito são para todos os efeitos a mesma coisa, mesmo que passado pouco tempo elas produzam efeitos contrários. Mas isso vem pouco depois de ter dito que se uma coisa produz um efeito contrário ao pretendido (a economia portuguesa a contrair) é porque deve estar a funcionar.

O primeiro-ministro da Finlândia tem sido um dos líderes europeus que mais se tem oposto a qualquer solução europeia para esta crise europeia, e já por vezes estivemos dependentes dele. Mais extraordinário ainda, Katainen fez-nos a graça da sua confusão mental em pleno discurso ao Parlamento Europeu, e segundo a imprensa esse discurso pode testar as suas pretensões a vir a ser Presidente da Comissão Europeia.

Isto aconteceu num dia em que saiu a notícia de que um dos artigos académicos mais influentes (de Reinhardt e Rogoff) sobre a relação entre dívida e fraco crescimento económico tem dados errados e quando se percebe há bastante tempo que não tem credibilidade outro célebre artigo académico (de Alesina e Giavazzi) que defende a teoria da austeridade expansionista. Houve até quem sugerisse que esse artigos foram já responsáveis por muito desemprego, por terem influenciado gente como o nosso Vítor Gaspar.

Mas acho que o problema é bem mais superficial e está em políticos de plástico como Katainen e Passos Coelho. Nem toda a gente consegue acertar. Mas eles nem para falhar são bons.

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