Ao injetar dinheiro nos bancos que estes não passaram para a economia real, os estados estavam a tentar empurrar uma corda comprida para dentro de um buraco. Um trabalho tão fútil quanto esgotante.

1. Uma pessoa normal, em geral, fica insolvente quando não tem dinheiro para pagar as suas dívidas e demais obrigações. Um banco fica insolvente quando não tem pessoas a quem emprestar o seu dinheiro. As duas coisas podem ocorrer em ciclo: as pessoas insolventes não pagam as suas dívidas aos bancos; e os bancos deixam de ter clientes dignos de crédito, entrando em insolvência.

Se o negócio do banco está em encontrar gente a quem possa emprestar dinheiro isso significa que as pessoas são o ativo do banco. Pessoas insolventes tornam insolventes os bancos.

No início desta crise, os estados tentaram resolver a crise injetado liquidez — ou seja, dinheiro — nos bancos. Isso não fez deles mais solventes. Havia uma falta de clientes dignos de crédito e os bancos ficaram cheios de dinheiro, que não emprestaram. E as pessoas continuaram cheias de dívidas.

Pior: entretanto, os estados gastaram os seus recursos e alguns deles estão também insolventes, ou perto disso. Como os estados também são clientes dos bancos, o facto de se terem tornado indignos de crédito torna os bancos insolventes a uma escala insuportavelmente incerta. Esta incerteza diminui radicalmente o número de clientes (estados, pessoas normais, empresas da economia real) dignos de crédito. O ciclo repete-se e agrava-se.

2. E se, desde o início da crise, os estados tivessem feito ao contrário? Em vez de darem dinheiro aos bancos para estes emprestarem às pessoas teriam dado dinheiro às pessoas para estas pagarem as suas dívidas aos bancos? As pessoas teriam diminuído os seus níveis de endividamento, tornando-se mais dignas de crédito, e em consequência os bancos tornar-se-iam mais solventes.

Isto já aconteceu no passado, quando na Grande Depressão os estados se viram forçados a criar agências de crédito para se substituir ao sistema bancário que estava congelado. Essas agências facilitavam o acesso ao crédito às empresas da economia real, que assim pagavam salários, com os quais as pessoas podiam pagar dívidas, poupar, ou consumir.

É o mesmo problema, visto ao contrário.

3. Imagine uma corda comprida que é preciso enfiar dentro de um buraco num muro. Há duas maneiras de o fazer.

A maneira errada é empurrar a corda a partir da ponta mais afastada. Se você tentar fazê-lo, reparará que a corda se enrola e serpenteia, mas que se recusa a entrar no buraco. Uma corda não é uma vara, e empurrá-la de nada serve.

A maneira certa de fazer é saltar o muro para poder puxar a corda a partir do lado de lá do buraco.

Ao injetar dinheiro nos bancos que estes não passaram para a economia real, os estados estavam a tentar empurrar uma corda comprida para dentro de um buraco. Um trabalho tão fútil quanto esgotante. Dar dinheiro às pessoas para estas pagarem as suas dívidas seria o equivalente a puxar pela corda da economia, e talvez tivesse resultado melhor.

O pior é que os estados ficaram demasiado exaustos pelo exercício e agora não têm como ajudar as pessoas (na Argentina acabaram por aparecer moedas improvisadas, como o patacón de Buenos Aires; pergunto-me se chegaremos a ver isso por cá).

Num dado momento da crise, que infelizmente tarda, vai ser preciso ver o problema pelo lado contrário. Essa é uma batalha de ideias que só será ganha com pragmatismo, e não com dogmatismo. É que os ativos dos bancos podem ser os clientes. Mas os ativos das pessoas são as ideias.

4 thoughts to “Empurrar uma corda pela ponta

  • e pronto finis.....

    tão simplificado…infelizmente a economia é muito mais irracional do que isso

    expectativas e segurança….de 1921 a 1945 muitos foram os alemães e europeus a aforrar em libras ouro e dólares e a desprezar os bancos e as moedas nacionais

    e obviamente isso tamém teve os seus prolemes

    anfim a cadA UNu sus crenças e descrençes

  • in solventes soluções.....

    quanto às pseudo-moedas também apareceram em Portugal mas foi para obviar a falta de trocos uma vez que a república imprimia papel em grandes quantidades (e até com ajudinhas de gente industriosa
    Acho que as notas de 500 de Alves dos Reis estimularam a economia brevemente assi como a inflação galopante soarista permitiu aos que tinham empréstimos a juros fixos pagar as casinhas e aos restantes perderem-nas

    pela mesma ordem de ideias podíamos nacionalizar os depósitos dos nacionais e dos restantes e atribuir uma % aos nacionais e deixar os restantes a arder com as dívidas

    num pusessem cá a dinheirama né?

    os passivos das pessoas são as ideias parvas?

    podíamos fazer uma eutanásia selectiva e puxar os bens dos que se transformavam em adubo involuntário ou em sabonetes para um fundo de salvação?

    …..bom fazer comentarios inteligentes numa peça destas é dificile
    contagium
    abyssum abyssus invocat

    o consumo teria de ser feito de modo a estimular uma economia semi-moribunda que assenta no sector terciário e na construção de arenques de betão armado

    com 2 milhões de velhadas e 3 milhões de candidatos há 3ªidade
    perdoar todas as dívidas (uma vez que lançar dinheiro no problema só faria isso e elevaria a inflação) é solução para quanto tempo?

  • resumindo o pânico de 77 e de 2008

    arruinam qualquer economia

    mais que os créditos é necessário assegurar a confiança das pessoas nos bancos

    quando a confiança se vai….toda a economia estiola

    investir e poupar para quê? se todo o sistema que dá valor se esvai

    pecebeu? nã?

    faz mal nã

    Reilig aoibhinn Ghobnatan
    tráthnóna te mí Iúil,
    duine ag guidhe anseo ‘sansiúd,
    paidrín phatrúin ina lámh’
    ciúineas ann.

    Uaigh gan leach,
    uair naoi mhí
    úr bhlath uirthi
    blathfhleasc nó dhó..
    ceol ‘nár gcroíthe.
    Ceol nach caoine é..
    tá sé imithe
    tá sé linn
    éist.

    Aifreann canta
    séipéal beag
    orgán ‘na láir
    guth binn Chúil Aodha
    láidir.

  • resumindo o pânico de 77 e de 2008

    tivemos grandes ministros das finanças (Cavaco excluso) até Teixeira dos Santos teria sido bom se não fosse um fraco…

    tirando isso os nossos bancos nem foram ávidos (BPP e BPN exclusas)
    apenas forneceram as necessidades habitacionais de férias in exóticos destinos e de pópós novos de milhões de portugueses

    logo certas diatribes populistas a la Portas (mikaelis ou von paulus)
    são enervantes e revelam falta de senso económico

    e de perspectiva histórica (portuguesa, alemã e desta sopa imperial chamada europa….o homem adoentado do mundo
    prrrronto …finis cinis
    é um epitáfio da moyen age tem 3 bersos mas esqueço sempre um

    em épocas de crise dá-nos umA perspectiva humanóide das criseis

Leave a comment

Skip to content