Jornal Público com novo grafismo. (05 de Março de 2012)

Aquilo de que precisamos mais do que nunca, num jornal, é uma explicação de como as coisas funcionam. As pessoas já sabem das notícias, já ouviram os comentários, mas continuam a querer tentar entender como funcionam as coisas.

 O recém-falecido fundador da Apple, Steve Jobs, dizia sobre o design: “as pessoas, na sua maioria, cometem o erro de pensar que o design é aquilo que uma coisa parece. Mas o design não é só o que as coisas parecem. O design é como as coisas funcionam.”

Vamos usar o exemplo que o leitor tem agora nas mãos: o desenho deste jornal é hoje diferente. Mas um desenho diferente não é importante por si, mas porque permite coisas diferentes. Aquilo que lemos com os olhos — o desenho — é o que nos permite ler o mundo com a cabeça.

Para que serve um jornal? Se fizéssemos essa pergunta há cinquenta anos, a resposta seria: para dar notícias. Mas hoje, quando chegamos ao jornal, já sabemos das notícias: vimos na televisão, no computador e no telemóvel. Há então quem dê outra resposta: o jornal serve para fazer comentário. Com mil raios, o que não falta por aí é comentário: comentários nos blogues sobre o comentário que o comentador fez aos comentários da oposição à notícia do dia, que foi sobre os comentários que o ministro fez à saída de uma reunião. Precisamos de comprar um jornal e sujar os dedos de tinta para ter mais comentários?

Não. Aquilo de que precisamos mais do que nunca, num jornal, é uma explicação de como as coisas funcionam: um desenho. Pode ser mesmo um desenho, uma reportagem, uma entrevista. Uma notícia ou uma opinião. Nunca será um desenho definitivo; será uma ideia que nos dê ideias. As pessoas já sabem das notícias, já ouviram os comentários, mas continuam a querer tentar entender como funcionam as coisas, e estão preparadas para várias explicações.

Isto para os jornalistas é difícil. Foram educados na ideia de que o jornalismo é, como dizia Stig Dagerman, “a arte de chegar atrasado tão cedo quanto possível”. Para um jornal diário, isso é hoje tarde demais. O desafio agora é chegar adiantado.

É por isso bom sinal que o nosso diretor seja hoje um filósofo.

Os jornais impressos não precisam de ter medo da internet.

A aparência da internet é que ela é uma coisa imediata. Mas a maneira como ela funciona é como uma memória infinita. O jornal impresso pode perfeitamente chegar antes da internet; mas tem dificuldade em ficar para depois.

Considerem então esta ideia, que dou de borla e de futurista não tem nada. Imaginem se cada artigo deste jornal terminasse com um código gráfico (como os códigos QR). O leitor poderia fotografá-lo com o seu telemóvel e seria logo guardada no seu arquivo pessoal uma versão limpa e bonita do mesmo artigo, pronta a consultar em qualquer plataforma; o jornal, no seu site, poderia mostrar-lhe os artigos passados sobre o mesmo tema; poderia sugerir-lhe os artigos futuros que fossem aparecendo; poderia aceitar que ele partilhasse a história com amigos.

Em suma: há nesta crónica três ideias. A maneira como as coisas funcionam é importante para entendermos como elas são desenhadas, e vice-versa. A história que um jornal conta já não é “do dia” mas tem de ser prolongada no tempo, começar antes da notícia e ficar para a memória. E os jornais são mais necessários do que nunca, mas de uma maneira nova.

Um exemplo? A notícia do dia, nos jornais “que chegam atrasados logo que possível”, é que os líderes europeus disseram que a crise do euro acabou. Isso já sabemos. Aquilo de que precisamos mesmo, num jornal que chegue adiantado, é que nos desenhe por que razão isso é, ou não, verdade.

(A propósito: não é verdade, e tentarei explicá-lo na próxima crónica.)

(Publicado no jornal Público em 05 de Março de 2012)

8 thoughts to “Como as coisas funcionam

  • João Vasco

    Rui Tavares,

    Já há algum tempo que sou da opinião que os órgãos de comunicação social deveriam ter maior preocupação em construir uma ponte didáctica entre o conhecimento académico (do ponto de vista económico, institucional, de direito administrativo, de ciência, etc..) e a notícia em si. Na verdade, muitas notícias só podem ser compreendidas quando se está dentro de um determinado contexto (por exemplo, quais os poderes do Parlamento Europeu, do Conselho, da Comissão; qual a função do Tribunal Constitucional, da Assembleia da República; o que é o keynesianismo, a escola austríaca, a anarquia e o marxismo; e por aí fora…) e os jornais acabam por se prejudicar a si próprios (pois têm menos clientes, visto que muitas pessoas não têm interesse por notícias que não compreendem) e à sua função (de informar a sociedade) por não serem capazes de ajudar a suprir falhas que tenham existido no sistema de ensino, e que não são supridas pela curiosidade auto-didacta das pessoas, em parte pela dificuldade de encontrar boas introduções a esses temas.

    Mas creio que a maior transformação dos jornais tem de ser noutro sentido: tem de ser no sentido de apelar ao civismo daqueles que querem contribuir com parte do seu rendimento para promover um corpo “investigativo”. Dar notícias é barato, se as notícias são «X matou Y à machadada» ou «Líder partidário Z disse W, e J respondeu T», mas fazer reportagens de investigação é caro.
    Ora eu não vou comprar um jornal para ter notícias porque as tenho gratuitamente. Mas assinar um jornal por sentir que estou a contribuir para que um corpo de jornalistas de investigação competentes contribua para que possamos uma democracia funcional já é outra conversa…
    Este sentido de pertença e de contribuição cívica, juntamente com a importância não de divulgar a reportagem, mas de a ter feito em primeiro lugar, é aquilo em que os jornais têm de apostar. É mais barato divulgar a reportagem de investigação que o jornal da concorrência fez do que pagar a esses jornalistas, mas se a questão for posta noutros moldes, o jornalismo de qualidade pode ser (espero eu!) rentável. É importante apelar também ao dever cívico das pessoas.

  • João Vasco

    Correcção: «tem de ser TAMBÉM noutro sentido.»

  • Merck el Sharp (nã é esse) Dôh-me ô-o

    E principalmente foi gratuito…que o Modelo até o impinge em descontos de 100%

    Ora o design é importantíssimo em 1994 houve alguém que se lembrou de pôr em cápsulas de gelatina um anti-depressivo de absorção intestinal…a verde e branco ao invés de comprimidos circulares
    e com uma propaganda do caraças
    velhinhas pré-suicidas a saltarem contentes
    gajas na menopausa a fazerem uh oh..como aqueles anúncios anti-sida

    ou seija fazer um comprimido em losango ou com duas cores
    ou com microgrânulos amarelinhos numa cápsula semi-transparente

    melhoram gigantescamente a sobrevida dos suicidas crónicos

    o design é tudo

    O seu design é de um pirata

    Naus soberbas de baloiçar lento

    em naus design pagas em prata

    afunda-as rápido o fraco vento

    por acaso tamém com design’s variados

    é cada tornado mais mal-feito que têm amandado nestes dias…

  • Merck el Sharp (nã é esse) Dôh-me ô-o

    O design do Epá…e do Dedo…da olá…tamém melhoraram a qualidade dos gelados

    e o perna-de-pau quinda subsiste cheiinhu de eritrosina cancerígena mas bem bistosa (potencialmente mutagénica em altas doses em rataria)
    isse de carcinogénica é coisa de designer de palavras…com muyto tempo livre

  • Como não funcionam as coisas

    O design funcional (ou como dizia um professor eu não conheço ciência aplicada conheço aplicações da ciência) isto é um design que sirva para algo permite criar por exemplo um sistema de regadio funcional (por exemplo o design grego permitiu criar um sistema de regadio que até se dá ao luxo de produzir algodão para exportar (1/10 das exportas dos eua, 1/6 do subcontinente indiano)

    o sistema de regadio e o falso emparcelamento português só criou reservas de caça…com subsídios de set-aside e manta morta para alimentar os fogachos de fevereiro a outubro
    (excepto Abril que devem chover umas pingas…o design divino criou um núcleo de altas pressões de deslocamento lento)

    o mau design cria capachinhos para Trump’s e dá aos Trumps deste mundo e aos Jobs a capacidade de iludirem o poviléu em produtos de luxo e de escassa vida útil

    há 7 anos os miúdos roubavam uns aos outros as capas dos telemóveis
    pintadas em dourados e em psicadelidades que lhes acrescentavam 150%
    e 500% de valor

    há 30 anos fazia-se o mesmo que há 50 com iô-iôs e hula-hoops e centos de outros mood’s ou moody’s de consumo
    o design é o ideal para encher vidas de tralha tecnológica

    é como os livros…há velhotes (raramente velhotas)
    que enchem as suas vidas com dúzias de edições diferentes só pelo design…esta semana 6 toneladas de produtos de diverso design
    umas 6 televisões e uns 500 isqueiros sairam duma casa abandonada há anos e foram parar ao lixo…
    2 enceradoras uma dos anos 50 e outra dos anos 70…
    4 yogurteras 3 máquinetas de fazer pão…15 fritadeiras e máquinas de sumos e café…design pois

    é um conceito interessante
    e coleccionável…umas 600 flamas e afins foram pelo mesmo caminho
    cada uma tinha um design diferente
    até havia aqueles cadernos do público…aparentemente tinham bom design
    só em papel de revista livros e papelame de design variado
    foram um terço do peso total umas 2 tones…

  • Como não funcionam as coisas

    quanto a guardar Considerem então esta ideia, que dou de borla e de futurista não tem nada. Imaginem se cada artigo deste jornal terminasse com um código gráfico …teria como yo ao fim de 2 anos com interneta..cerca de um milhão e meio de artigos e fotos e power-points e etc que nunca verei nem nesta nem nas próximas 15 vidas

    é o design do fútil (para não dizer inútil)

  • Como não funcionam as coisas

    vamos usar a ideia imbecil …que atrasar a publicação de comentários parvos daria um maior status ao possuidor da capacidade de postergar para a intemporalidade ou para uma posteridade de dúbia existência (isto da internet como reservatório é algo fugaz)

    outra ideia de valor acrescentado…o eurrodeputado possuidor de uma mesinha de escrituração poderia ter uma portagem paga para comentários

    digamos escalão 1 para pessoas de valor como aquelas que levaram à falência uma data de negociatas (esses até poderiam ter um escalão
    -1 receberiam por se dignarem comentar

    e o escalão 13 – cumentadores estupidificados por décadas de vida na eurropa que pagariam 15 eurros de portage por cada cumentáiro …

    nã funcionaria em tutti blog (atão nus blogs da TVI…)
    mas funcionaria na página do presidente da respúbica

    do facenabook coysa que sey que existe e até tem ant farm’s ou coisa assis

    assim até um design de uma página…daria valor acrescido…

  • Como não funcionam as coisas

    Aquilo de que precisamos mais do que nunca…duvido que num jornal (que precisa de ser pago por alguém), é uma explicação de como as coisas não funcionam nem funcionarão…
    sabendo-se isso dormiremos mais descansés

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